Autoengano
Thomas Reade
Um bom pensamento não consiste apenas em pensar em coisas boas. Nós podemos meditar nos assuntos mais excelentes, e mesmo sentir algum prazer neles, ao mesmo tempo que nossas meditações nem são agradáveis a Deus nem são proveitosas para nós mesmos. Pelo hábito de frequentar algum ministério cristão, e por lermos publicações religiosas, podemos ser levados a adotar um modo evangélico de pensar; e contudo, tanto o fiel pregador quanto o piedoso autor podem ser para nós apenas como a chuva de verão que cai sobre a pedra que não produz fruto algum.
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.21) é a voz de advertência da verdade revelada. Há um perigo de ficar satisfeito com o sentimentalismo da religião. Se uma pessoa consegue expressar-se com energia e elegância nas grandes peculiaridades do evangelho, e dessa forma transmitir seus pensamentos de forma aceitável e prática, ela corre o perigo de pôr esse conhecimento e essa facilidade de falar em lugar da religião humilde e sincera.
Assim como não é cristão aquele que apenas fala a respeito de Cristo, assim não tem mentalidade espiritual aquele que apenas pensa a respeito das coisas espirituais. É uma grande bênção possuir pontos de vista espirituais; mas de que servem eles, sem sentimentos espirituais e um andar espiritual?
Nós estamos em constante perigo de enganarmos a nós mesmos. O que é o conhecimento sem o amor? O que é uma resposta pronta sem uma experiência genuína? Davi disse: “Eu cri, por isso falei”. E Paulo, quando cita essa passagem, acrescenta: “Nós também cremos, por isso falamos”. Por esta razão, o apóstolo exorta os efésios convertidos a falar a verdade em amor, para que possam crescer em Cristo em tudo; nele que é o cabeça do corpo místico da igreja. Eu gostaria, então, com toda solenidade, fazer esta pergunta perscrutadora a mim mesmo: Será que eu considero Jesus precioso? Será que eu O considero assim de coração? Eu O amo como meu único Salvador? Será que eu confio completamente na Sua expiação e na Sua mediação diante de Deus? Será que tenho tanto prazer nos Seus mandamentos quanto eu tenho nas Suas promessas? Será que essas concepções e sentimentos me tornam humilde e me levam à grata e obediente autonegação? Será que meu alvo é andar de forma que eu agrade a Deus em todas as coisas? Estou procurando continuamente o Espírito Santo em busca de poder para me arrepender, para crer, amar e obedecer? Será que me aproximo todos os dias da cruz, como um humilde suplicante? Tenho tomado posse, pela fé, da salvação prometida, tão livremente oferecida a mim no evangelho da graça? Tem sido essa a característica da minha religião? Então meus pensamentos a respeito das boas coisas são bons pensamentos; eles são inspirados pelo Espírito de Deus, pois é somente dele que procedem “todos os desejos santos, todos os bons impulsos, e todas as obras justas”. Eles são evidência da mentalidade espiritual, que é vida e paz.
Ó, minha alma, vem e derrama o coração diante do trono da graça. Ali podes pedir tudo de que precisas, com a mais completa certeza de que o bendito Jesus, por Sua inexaurível plenitude, suprirá toda e qualquer necessidade que porventura Lhe apresentes. “Bendito Salvador! Peço que me dês uma mente mais espiritual; um coração mais puro; uma indiferença maior para com o mundo; uma maior semelhança contigo; uma fé mais viva; mais fervor; mais amor às almas; mais conhecimento e sabedoria; mais humildade e paciência; sim, que eu tenha com mais abundância cada uma das virtudes que me farão adornar o Teu evangelho, e glorificar o Teu santo nome.”
Como é terrível a situação daquele que professa a fé, mas que engana a si mesmo e se justifica a si mesmo! Ele constrói sobre um falso fundamento; apoia-se em falsas esperanças; e tranquiliza a consciência e a põe a dormir mediante uma falsa paz. Ele confia num braço humano — e o seu coração se aparta do Senhor. Ele não tolera o pensamento de depender inteiramente de outrem, de Jesus, o eterno Filho de Deus, para uma justificação gratuita; e por isso faz uso dos méritos do Salvador apenas como um contrapeso na ativação de suas próprias virtudes, para contrabalançar as fraquezas e ocasionais quedas da natureza humana. “Mas Cristo prefere desistir dos que são Seus, a dar nos céus um trono aos orgulhosos.”
Como são diferentes os pensamentos e sentimentos do pecador convicto. Ele se vê arruinado e acabado, sob a maldição de uma lei transgredida, sem vigor, sem justiça, e sem esperança. Ele sente o peso do fardo dos seus pecados. Ele afunda sob a pesada carga, e não encontra ajuda nem de homens nem de anjos. Quando ele contempla a Deus por meio da lei que transgrediu, vê-O como um Juiz ofendido, cujo braço levantado está prestes a executar a terrível sentença. Ele teme pensar em Deus; um temor escravizador lhe enche o coração; e o horror se apodera do seu rosto. Ele olha à direita, mas não encontra descanso; olha à esquerda, mas não acha livramento. Em algum momento favorável, um instante muito precioso, a graça, como um raio de luz, cintila em sua alma surpresa. As nuvens do desânimo começam a se dissolver. Cessa o trovejar do Sinai. Ele ouve uma suave voz lhe falando de perdão e paz por meio do sangue de Jesus. Ele ouve – mal pode crer nas palavras que, no interior, com poder, chegam até a sua alma trêmula. Mas ele não se engana. A luz aumenta gradualmente. O Espírito Santo, por meio da palavra escrita ou pregada, revela à sua mente agora preparada o adorável Jesus crucificado, em todas as glórias do amor redentor. Ele agora contempla o Todo-Poderoso de forma nova, afetuosa. Ele O vê como um Pai terno, reconciliado por meio de Jesus Cristo; infinitamente justo e santo, contudo que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado. Ele corre para a esperança colocada à sua frente pelo evangelho, e busca refúgio das tempestades de ira no lado ferido de Jesus.
“Rocha Eterna! Por mim partida, quero em Ti me refugiar” – é a ardente súplica do seu coração. Pela fé, ele está vestido da justiça do Salvador, armado com vigor para o combate espiritual, e selado com o Santo Espírito da promessa. Alegria e paz agora lhe enchem a alma; o amor o constrange a obedecer; e a confiança infantil nas promessas o sustém em cada provação. Ele busca a glória do seu Redentor; ama a Sua causa e o Seu povo; achega-se ao trono baseado unicamente pelos Seus méritos; e considera todas as coisas como perda pela excelência do conhecimento de Jesus Cristo, seu Senhor. Ele aborrece e resiste aos pecados que antes amava, e renuncia ao mundo que tanto o encantava. Dessa forma, por meio da santificação progressiva, ele avança de força em força, até que finalmente se apresente diante de Deus em Sião. Esses são os benditos frutos do evangelho, quando ele vem em poder, e no Espírito Santo, e em muita convicção. Ele invariavelmente produz obras de fé, obras de amor, de paciência e esperança. Ele produz glória a Deus nas alturas, paz na terra, e boa vontade entre os homens. Ele transforma o leão em cordeiro; o deserto, em jardim do Senhor. Ele converte o coração impuro e selvagem em habitação apropriada para a meiga e santa Pomba. As coisas velhas passaram – eis que tudo se fez novo.
Como é divinamente gloriosa, então, essa religião de Jesus! Ela restaura o pecador ao favor de Deus; ela o renova à imagem de Deus; ela o redime das profundezas do inferno; e o ressuscita aos mais altos lugares na glória! Que língua poderá descrever, ou que coração poderá conceber as riquezas e a extensão da redenção humana? Como é encorajadora essa verdade vivificadora da alma: “todos aqueles que ouvirem essas bênçãos com coração receptivo são bem-vindos, sem exceção”. Senhor, faze-me disposto no dia do Teu poder. Sela essa grande salvação em meu coração, e faze-me Teu de hoje em diante, para sempre.
Vem, Espírito Santo, do alto,
Ó fonte de luz, fogo e amor;
Vem, habita em meu peito anelante,
E concede-me descanso da consciência atribulada.
Todo-Poderoso visitante, dispersa
As negras intenções e tormentas do inferno;
Manifesta Teu imenso poder divino;
Enquanto sobre mim fazes brilhar Teus raios de misericórdia.
Subjuga toda inimiga rebelião natural,
Que só Tu e a consciência conhecem:
Expurga todo odioso fermento, o pecado,
Que tão profundamente arraigado está.
Remove de mim a incredulidade e o orgulho,
Essa lança que traspassou o lado do meu Salvador;
Destrói cada paixão, até que só Tu
Estejas assentado no trono das afeições.
Vem, Espírito Santo, do alto,
Com todo o poder do amor;
Vem, sela a salvação em meu coração,
E jamais Te afastes da minha alma.
Em todas as minhas jornadas aqui,
Oh! Concede-me Tua luz e verdade;
E quando tiverem acabado os meus labores terrenos,
Oh! sê Tu minha felicidade eternamente!
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).
Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Aplica-te ao estudo da Palavra.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).
Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)
Orar bem é estudar bem.
Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).
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Em tudo dai graças (1Ts 5.18).
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)
A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
Deus tudo vê
Não temais, pequenino rebanho.