Como andar com Deus
Carta de John Newton
Março de 1773
Prezado senhor:
Se pudéssemos manter de maneira constante uma singela dependência do ensino e influência do benigno Espírito de Deus, sem colocarmos de lado o uso dos meios apropriados, isso tornaria fáceis e bem sucedidos todos nossos deveres. Isso nos livraria de muita preocupação e de muitos erros. Acredito que o assunto que tenho em mente é de grande importância para mim mesmo, e, talvez, não seja de todo desagradável a você – Como andar com Deus em todos os acontecimentos diários da vida, de forma que façamos tudo por amor a ele e por meio da força dele.
Quando somos justificados pela fé, e aceitos no Amado – tornamo-nos herdeiros da vida eterna; mas, enquanto não entrarmos no estado da glória eterna, não conheceremos o pleno valor de nossos privilégios. Para isso acontecer, a maioria dos que se convertem precisa aguardar certo tempo depois de se tornarem participantes da graça. Embora o Senhor os ame, odeia o pecado, e lhes ensine a odiá-lo também – ele faz com que permaneçam determinado tempo num mundo pecaminoso, e a gemerem sob o fardo de uma natureza depravada. Ele poderia fazê-los tomar posse imediata do céu para o qual foram preparados – mas ele não faz isso. Ele tem um serviço para eles aqui; uma honra que vale tudo o que eles possam sofrer, e para a qual a eternidade não apresentará oportunidade, ou seja – serem instrumentos para promoverem os desígnios de Deus, e para manifestarem sua graça no mundo. A rigor, esse é o nosso trabalho aqui, a única razão por que a vida é prolongada, ou para a qual ela é desejável, que possamos completar nossas relações e situações, aperfeiçoar nossas consolações e nossas aflições, de tal maneira que Deus seja glorificado em nós e por meio de nós.
Assim como ele é um Senhor generoso e um Pai bondoso, ele tem prazer de conceder uma variedade de bênçãos temporais, que suavizam nosso trabalho, e, vindas de sua mão, são muito valiosas. Mas, de forma alguma devemos viver em função delas mesmas, visto que não satisfazem nem nossos desejos, nem nos preservam da tribulação, nem nos sustentam nas aflições. Essa luz do rosto de Deus, que pode penetrar os muros e dissipar as trevas de um calabouço, é infinitamente preferível a tudo que se pode desfrutar num palácio sem essa luz. O verdadeiro propósito da vida é viver não para nós mesmos – mas para Aquele que morreu por nós; e, à medida que nos devotamos a seu serviço aqui na terra, regozijarmo-nos com a esperança de sermos felizes com ele para sempre no céu.
Em geral, essas coisas são conhecidas e reconhecidas dos que professam a fé. Mas há poucos favorecidos que agem de modo consistente com os princípios que professam; que, honesta, diligentemente e sem reserva, se esforçam para multiplicar seus talentos e usar sua força para promover a obra do Senhor, e se restringem unicamente a pontos de vista e propósitos inteiramente subordinados e propícios a essa obra. Sim, eu creio que os melhores servos do Senhor veem razão suficiente para confessar que não são apenas inúteis em comparação com o que gostariam de ser – mas, em muitos casos, também infiéis. Eles encontram tantas armadilhas, obstáculos e tentações vindas de fora, e tanto estorvo do pecado que habita no íntimo deles – que eles têm mais razão de se humilharem do que terem pena de si mesmos, mesmo quando parecem totalmente sinceros e plenamente frutíferos.
Contudo, não temos nenhuma confirmação bíblica de que servimos ao Senhor se não vemos em nós um habitual desejo e esforço de servi-lo inteiramente. Ele é gracioso para com nossas imperfeições e fraquezas; contudo, ele requer todo o coração, e não se deixará servir pela metade, nem aceitará aquilo que for feito com coração dividido.
Fazer tudo para a glória de Deus é a verdadeira alquimia que transforma tudo em ouro, e enobrece as ações comuns da vida em atos de piedade (1Co 10.31). Também não existe um grão sequer de real excelência em ações enganosas, que são efetuadas sem referência à glória de Deus. Isso é algo que o mundo não consegue entender; mas é algo bastante razoável àqueles que extraem da Escritura seus conceitos sobre Deus, e que têm sentido a necessidade dos benefícios da redenção e os têm encontrado.
Somos devedores a Deus de várias maneiras – o Senhor tem direito sobre nós por criação, por redenção, por conquista, quando ele nos livrou do poder de Satanás, e tomou posse de nosso coração por meio de sua graça; e, por último, por nossa própria rendição voluntária, no dia em que ele nos capacitou a centrar nele nossa escolha – como nosso Senhor e nossa porção. Aí, então, sentimos a força de nossas obrigações. Vimos a beleza e a honra de seu serviço, e que nada era digno de competir com ele, por menor que fosse o grau. Isso sempre é verdade, embora nossa percepção do fato nem sempre seja igualmente intensa. Mas, onde isso foi alguma vez conhecido de fato, não será mais esquecido de todo, ou deixará de ser o princípio governante da vida; e o Senhor prometeu reavivar a impressão naqueles que esperam nele, e assim renovar-lhes a força; pois, na proporção em que sentimos as ligações que nos prendem a ele – nos apegaremos a seu serviço como sendo perfeita liberdade.
Além disso – quando os olhos são simples assim, o corpo todo ficará iluminado. O princípio de agir simplesmente para Deus, no geral tornará claro o caminho do dever, resolverá mil questões que, de outra forma, seriam dúbias, conduzirá aos meios mais apropriados e óbvios, e removerá a dolorosa ansiedade sobre os acontecimentos, que, de nenhuma outra maneira podem ser evitados. O amor a Deus é o melhor juiz; especialmente porque nos conduz a um zeloso cuidado para com seus preceitos, uma confiança em suas promessas, e uma submissão à sua vontade.
A maioria de nossas dificuldades provém de uma conexão imprópria, embora talvez não percebida, com o EU. Pode ser que tenhamos algum plano próprio muito ligado a nossa maneira de pensar o que é servir ao Senhor; ou damos ênfase a nossa própria maneira de lidar com as coisas, que, embora tenhamos dúvidas se darão certo, não conseguimos deixar de agir dessa forma. Com respeito a essas coisas, o Senhor permite que seus servos ocasionalmente sintam suas próprias deficiências; mas, se são sinceramente devotados a ele, ele lhes ensinará a tirar proveito delas, e os trará aos poucos a uma dependência simples, bem como a uma intenção correta. Então, todas as coisas são fáceis. Agindo por amor, e andando pela fé, eles não serão nem desapontados nem desencorajados. O dever é a sua parte, o cuidado é dele, e eles são capacitados a lançá-lo sobre ele. Eles sabem que, quando os seus recursos parecem falhar – que ele ainda é todo-suficiente. Eles sabem que, estando engajados na causa dele, não é possível que fracassem; e que, embora em algumas coisas possam parecer não terem sucesso, estão seguros de serem aceitos, e que ele avaliará os seus serviços não pelos seus reais efeitos – mas de acordo com o gracioso princípio e desejo que ele colocou no coração deles (2Cr 6.7-8).
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).
Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Aplica-te ao estudo da Palavra.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).
Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)
Orar bem é estudar bem.
Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).
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Em tudo dai graças (1Ts 5.18).
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)
A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
Deus tudo vê
Não temais, pequenino rebanho.