Literatura para uma vida cristã sadia

Como tratar os problemas espirituais - A. W. Tozer

Como tratar os problemas espirituais

A. W. Tozer

 

Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com consciência pura, de que sem cessar faço menção de ti em minhas súplicas de noite e de dia, desejando ver-te, recordando-me das tuas lágrimas, para que o meu gozo seja completo; lembrando-me daquela fé não fingida que há em ti, a qual habitou primeiro em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou persuadido que também em ti. Por esta razão te lembro que tornes a acender o dom de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu o espírito de timidez, mas de força, de amor e de prudência. Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim que sou prisioneiro seu; antes sofre comigo pelo Evangelho segundo o poder de Deus... (2Tm 1.3-8 — Tradução Brasileira)

A passagem acima apresenta o exemplo clássico de um homem que, se já não está preso numa rotina, corre sério perigo de entrar em algo parecido com isso.

O velho soldado Paulo estava quase se aposentando; ou seja, estava se aproximando a hora em que o Senhor o levaria para casa. Antes de ir, ele escreve uma carta ao seu jovem coobreiro, muito mais jovem do que ele, mas um jovem muito nobre.

Timóteo era homem cheio de fé, educado numa família onde a fé em Deus era fortemente cultivada. Ele tinha mostrado o seu valor centenas de vezes no trabalho com o grande homem Paulo.

Mas mesmo Timóteo, embora muito atarefado e até pelo fato de estar tão ocupado, encontrava-se em perigo de acomodar-se numa rotina. De outra forma, Paulo não teria dito: “que tornes a acender o dom de Deus, que há em ti”.

Nas Escrituras, Deus nunca usa palavras desnecessárias. Ele nunca diz: “Acorda!” a uma pessoa que já está bem acordada. Ele nunca diz: “Deita!” a uma pessoa que já está deitada. Ele nunca diz: “Fica em pé!” a alguém que já está de pé. E ele nunca diz: “Tem ânimo!” a uma pessoa que já está motivada.

Deus nunca desperdiça as suas palavras, e ele nunca faz pequenos discursos, como o fazem as pessoas quando são chamadas para o lançamento da pedra fundamental de uma construção. E Paulo também não estava desperdiçando palavras ou dando um pequeno sermão que seria mais ou menos útil a qualquer um. “... te lembro que tornes a acender o dom de Deus, que há em ti” (1.6). Timóteo precisava dessa admoestação, ou então ela não teria sido escrita.

É evidente que Timóteo corria o perigo de entrar numa rotina, embora trabalhasse duro e fosse um homem fiel. O que Paulo disse, na verdade, foi isto: “Não te envergonhes da cruz”.

É possível ser derrotado quando se está adormecido. Você pode sorrir e louvar ao Senhor, e dizer, por um tempo: “Jesus, minha cruz eu já tomei”. Mas aí você é lentamente derrotado enquanto dorme, e entra numa espécie de rotina onde não consegue lutar.

Timóteo estivera com Paulo por longo tempo, e Paulo, a maioria do tempo, estivera em meio a muitas tribulações. Timóteo seguia de perto esse mesmo tipo de dificuldades, e Paulo percebeu nele uma pequena tentação de envergonhar-se da cruz. Basicamente, Paulo estava dizendo: “Não te envergonhes da cruz. Não evites as aflições do Evangelho. Deus não nos deu espírito de temor”.

Aí, na Segunda Carta a Timóteo, no capítulo 2, versículo 3, Paulo diz: “Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus” (Tradução Brasileira). É como se ele tivesse detectado naquele jovem uma pequena tentação de recuar um pouco da vida dura a que fora chamado.

Paulo sabia que, basicamente, Timóteo era um homem leal. Ele sabia que Timóteo tinha sido criado num lar cristão. Ele citou Loide, a avó de Timóteo, e a mãe dele, Eunice. Tanto a avó como a mãe eram cristãs, e cristãs legítimas. O jovem Timóteo foi instruído e tornou-se cristão bem cedo na vida. Paulo sabia que ele era basicamente leal, um cristão genuíno. Mas receava que a pressão das coisas e o enfado de ser sempre a minoria colocasse Timóteo em perigo de acomodar-se.

 

Um reavivamento pessoal

Há uma experiência que se iguala a um renascimento, um reavivamento pessoal.

A melhor ilustração é a chegada da primavera na fazenda[1]. A neve cobre tudo durante o inverno, e em alguns lugares você não consegue mais ver o chão enquanto não chegar a primavera. Parece tudo completamente morto, mas você sabe que a vida continua ali. As árvores estão desfolhadas, parecem desoladas, mas existe vida nelas. As raízes no chão estão todas quietas, mas ali embaixo existe vida. Por baixo daquele limite congelado estão as minhocas, os besouros, os camundongos, as toupeiras e os esquilos. Estão todos ali, e existe vida ali embaixo. Estão todos aguardando uma coisa, estão esperando ouvir a mãe natureza dizer: “Acende o dom de Deus que está em ti”.

Aí chega a primavera; a neve se vai e começam a aparecer aqui e ali os sinais de terra. No lado ensolarado dos morros, as codornizes começam a assobiar seu canto alegre, mas monótono. O gado começa a correr pelos campos escoiceando o ar. É a primavera chegando. Logo toda a neve se vai, nascem os bezerros e os cordeirinhos, e começamos tudo de novo. Graças a Deus, tudo se faz novo.

Na vida cristã, existe um fenômeno muito parecido com o inverno. Em outras palavras, alguma coisa lhe acontece, pouco a pouco, até você se ver totalmente soterrado pela neve e totalmente coberto de gelo. Existe vida lá embaixo, mas encontra-se totalmente coberta pelo frio e pelo gelo. A vida está oculta; ela está lá embaixo, em algum lugar.

Nós podemos passar por experiências espirituais que podem nos despertar, experiências equivalentes a uma primavera no campo. Eu já vi isso acontecendo, e gostaria de vê-lo acontecendo aqui esta noite.  

A ilustração do campo tomado pelo inverno tem suas falhas (assim como todas as ilustrações as têm), pois não há como falar com os campos.

Você nunca ouviu falar de algum fazendeiro que, mais ou menos em fevereiro, sobe num toco de árvore e começa a pregar para os campos. Não é assim que as coisas acontecem, e a razão é que essas criaturas não têm percepção moral e não tomam decisões morais por si mesmas. Todas elas dependem da posição do sol. Elas não têm como fazer nada com respeito à condição em que se encontram.

 

Nós precisamos entrar

Mas nós podemos interferir em nossa própria situação. Nós podemos experimentar o equivalente espiritual de uma primavera no campo, mas é preciso que entremos nela. As árvores esperam a primavera, e mesmo os animais precisam aguardá-la. Mas você e eu, uma vez que fomos feitos à imagem de Deus, e como possuímos vontade própria, podemos fazer alguma coisa a esse respeito. Nós podemos recorrer diretamente ao nosso coração, não precisamos ficar parados como se fôssemos um campo todo coberto de neve. Podemos nos levantar, nos incitar à ação. Podemos correr ao encontro do sol. Podemos criar nossa própria crise, porque a tarefa não se refere a campos e pastos, mas ao nosso próprio coração. Essas outras coisas apenas ilustram a primavera espiritual. Nós podemos nos incitar à ação. Podemos fazer sair o sol e fazer chegar a primavera.

Mas como é que fazemos isso?

Antes de tudo, é preciso tornar-se uma coisa pessoal. Eu não acredito em nada que aconteça a uma igreja que primeiro não aconteça ao indivíduo. Se não é algo que afeta o indivíduo, ou vários indivíduos, se a coisa não passa de um entusiasmo que afeta todo mundo momentaneamente, eu não acredito nisso de jeito nenhum.

Davi estabeleceu o padrão para nós. Ele confessou e se arrependeu.

C. H. Spurgeon pregou sobre arrependimento semana após semana, e alguém o interpelou: “Pastor, quando é que você vai parar de pregar sobre arrependimento?” Spurgeon replicou: “Eu paro quando vocês se arrependerem”.

Quando falamos sobre confissão e arrependimento, devemos continuar a fazê-lo até que ambas as coisas tenham produzido o seu efeito ou até que saibamos que não vai haver efeito nenhum. Parafraseando as palavras de nosso Senhor numa situação semelhante: “Sacudi o pó de vossos pés e procurai algum lugar onde vos escutem”. Quanto a você, tenho melhores expectativas. Eu creio que você vai ouvir.

Charles Finney foi um conhecido pregador do século XIX. Não concordamos com tudo o que ele ensinou, mas cremos que foi um dos grandes homens de Deus, talvez um dos maiores evangelistas que viveu desde o apóstolo Paulo. Finney disse que, de vez em quando, havia épocas ou períodos quando ele entrava num determinado trilho, um sulco, e o poder que havia em sua vida se desvanecia. Finney disse: “Quando isso acontecia, eu separava um tempo e esperava em Deus com jejum e oração até que fosse restaurado”.

Essa é a velha maneira de fazer as coisas, e era assim que Davi fazia. Os Salmos foram regados com as lágrimas salgadas de Davi, enquanto confessava os seus pecados a Deus, se arrependia, buscava perdão e o recebia, e saía alegre pelo caminho.

 

Papel e caneta

Tente colocar em prática aquilo que eu chamo de método do papel e caneta.

Esse método é muito simples, e consiste em pôr-se de joelhos com a sua Bíblia, um papel e uma caneta. Leia a Bíblia, e então escreva aquilo que está errado com você.

A única maneira de permanecer espiritual é tomar conta de si mesmo de perto. O método do papel e caneta é um bom método.

Leia, por exemplo, o Sermão da Montanha. Quando o Espírito Santo disser: “Você é essa pessoa”, escreva o pecado que você identificou. Siga lendo.

Quando o Espírito Santo disser que você está errado aqui ou ali, ponha isso no papel.

Depois, deixe sua Bíblia de lado e repasse a sua lista diante de Deus em confissão, com o compromisso de nunca mais se deixar enredar com essas coisas.

Converse com o seu próprio coração, fique quieto e examine-se a si mesmo como se fosse um médico, com sua Bíblia aberta diante de você.   

Você verá que isso trará a luz do sol à sua vida e começará uma primavera em seu coração.

Quando você chega diante de Deus e percebe que há um pouquinho de neve no chão e que já não se ouve o alegre canto dos pássaros na terra e que o suave perfume das flores não está mais em você, examine-se a si mesmo diante de Deus com a Bíblia aberta.

Você já conhece os sintomas, mas tente chegar às causas desses sintomas. Se for evasivo com Deus, não receberá ajuda de forma alguma.

Se for evasivo consigo mesmo, se você racionalizar as suas fraquezas, de forma alguma será ajudado.

 

Faça algumas perguntas

Recomendo que você faça a si mesmo algumas perguntas. Num lugar silencioso e tranquilo, pergunte: Será que sempre sou verdadeiro e honesto?

Eu declaro ser cristão e creio que a raiz do problema está em mim, mas a semente de Deus está em meu coração. Creio que sou filho de Deus, mas não estou satisfeito com essa rotina fria. Clame a Deus: Senhor, ajuda-me a ser sincero enquanto respondo essas perguntas.

Será que sempre sou honesto quando falo por telefone?

Será que sempre sou honesto com meus credores, com meus patrões, com meus funcionários, nos negócios e nos contatos sociais?

Talvez alguém pergunte: E daí? Qual é a diferença? Ser desonesto e ocultar a verdade são pecados que entristecem o Espírito Santo e provocam o inverno na alma.

Talvez o inverno do descontentamento tenha alcançado você, e, como uma árvore sem folhas, sua vida esteja enterrada sob o gelo.

Talvez você tenha entristecido o Espírito Santo por meio da insinceridade. Uma das primeiras coisas que os cristãos precisam fazer é tornarem-se inteiramente honestos com Deus e inteiramente verdadeiros em tudo o que dizem.

Outra pergunta que você deve fazer a si mesmo é esta: Será que tenho algum hábito do qual me envergonharia se alguém ficasse sabendo? Tenho qualquer hábito pessoal do qual me envergonho? Será que existe alguma coisa que escondo quando o pastor está vindo? Se a Igreja ficasse sabendo tudo a respeito da forma como vivo, será que eu voltaria a frequentá-la?

Você pode esquivar-se disso, dissimular, e responder de forma evasiva, mas a neve vai continuar no seu coração.

Mas se você responder a Deus de forma honesta e arregaçar as mangas para livrar-se disso e deixar a sua vida limpa, com toda a certeza surgirá a primavera em sua vida.

Depois, pergunte a si mesmo: Será que a minha conversa é limpa? Uma das coisas mais repugnantes na Igreja é o cristão de boca suja que sempre anda beirando os limites estabelecidos. Não há lugar para historietas limítrofes que envergonham os outros, e não existe nada a respeito do sexo ou do corpo humano que seja engraçado se a sua mente está limpa.

Certa vez, em uma reunião de oficiais, George Washington estava presente na sala. Um dos jovens oficiais lembrou-se de uma história suja que pretendia contar. Com um sorriso no rosto, olhou em redor e disse: “Pessoal, eu tenho uma piada. Espero que não haja nenhuma senhora presente aqui.” Washington endireitou-se e disse: “Não, meu jovem, mas temos cavalheiros presentes aqui.”

O jovem oficial calou a boca e conservou na própria mente e coração imundos a sua piada suja.

Não conte nada que você não poderia contar na presença de Jesus. Não ria de nada de que você não poderia rir se Jesus estivesse presente.

Faça a si mesmo outra pergunta: Será que estou usando o meu dinheiro de forma sábia? Estou usando o meu dinheiro para abençoar as pessoas? Estou usando o meu dinheiro para ajudar a buscar as ovelhas perdidas? Estou usando o meu dinheiro para ajudar a alimentar as crianças famintas?

Mais uma pergunta: Será que eu faço fofoca? Tenho sido um causador de problemas? Algumas pessoas transmitem doenças das quais elas mesmas não sofrem. Transmitem a doença, mas elas mesmas não estão doentes — são apenas transmissores. Existem alguns cristãos que são transmissores. Eles conseguem dizer “Amém” com os melhores, e cantar “Mais perto quero estar, meu Deus, de Ti” com os que têm voz mais alta, mas eles não precisam estar presentes por muito tempo até que as suspeitas comecem a instalar-se na mente dos cristãos. Eles são criadores de casos e transmissores de confusão.

Depois disso, pergunte a si mesmo: Será que eu julgo os outros cristãos? A sua condição atual de frieza pode bem ser um juízo de Deus, pois assim como você julga os outros Deus julga você. A sua atual situação de frieza pode ser devida ao fato de você ter julgado alguém que estava frio, e o Senhor permitiu que a coisa se voltasse contra você mesmo.

Será que tenho mentalidade celestial, ou penso segundo este mundo? Onde é que meus pensamentos costumam vagar quando estão livres para vagar por onde quiserem? Em que é que eu costumo pensar e meditar? Será que os meus pensamentos são puros e caridosos? Se você conseguir identificar aquilo em que costuma pensar, conseguirá saber o tipo de cristão que é, e o tipo de coração que possui. Nós sempre costumamos pensar nas coisas que amamos, ou naquilo que odiamos se estamos guardando rancor de alguém.

Será que sou fiel na oração? Faça essa pergunta a si mesmo. “Bem, estou bastante ocupado”, você dirá. Sim, você está bastante ocupado! Essa era a realidade do Senhor Jesus. E também a de Martinho Lutero. Lutero disse: “Esta manhã, tenho tanta coisa para fazer, que vou precisar orar mais tempo hoje.” Você é fiel na oração, e medita na Palavra? Quanto da Bíblia você tem lido nesses últimos tempos? Você tem lido a Bíblia com meditação e receptividade?

Essas são umas poucas perguntas. Você pode responder com evasivas e deixar que a neve continue aí. Ou pode responder com honestidade e ver a primavera florescer no seu coração.

Coloque-se nas mãos daquele que ama você infinitamente. Se você tem falhado com ele, deve admitir que existe um sulco ou neve no campo. Diga isso a Ele — não tente esconder o fato. Ele não vai voltar as costas e dizer com raiva: “Você me desapontou e me traiu!”. Existe um bálsamo em Gileade, um bálsamo abundante. O bálsamo e a cura no sangue do Cordeiro tirarão você desse sulco.

 



[1] O Autor refere-se ao que acontece em seu próprio país, os Estados Unidos da América. — N. do E.

 

Procurar no site

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Aplica-te ao estudo da Palavra.

 

Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).

 

 

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)

 

 

Orar bem é estudar bem.

 

 

Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).

       

   Em tudo dai graças (1Ts 5.18).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)

 

 

 

 

     

A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
 
Deus tudo vê

 

Não temais, pequenino rebanho.

 

 

 

Deus existe e é galardoador daqueles que diligentemente O buscam. - Hebreus 11.6

Crie o seu site grátisWebnode