Irmão Lourenço - Biografia

Irmão Lourenço - Biografia

O Irmão Lourenço (1614-1691), cujo nome de batismo era Nicholas Herman, nasceu na região de Lorraine, região no leste da França atual. Aos 18 anos, ele recebeu uma revelação da Providência e do poder de Deus, mas se passaram seis anos antes de ele juntar-se à Ordem dos Carmelitas Descalços em Paris. Nesse meio-tempo, lutou na Guerra dos Trinta Anos, e mais tarde exerceu a função de criado.

Nicholas entrou no convento em Paris como irmão leigo, por não ter a educação necessária para tornar-se um clérigo, e adotou o nome religioso de “Lourenço da Ressurreição”. Ele gastou quase todo o resto da sua vida entre os muros do convento, trabalhando na cozinha a maior parte do tempo e como restaurador de sandálias nos seus últimos anos de vida.

Apesar do seu trabalho um tanto humilde, ou talvez por causa dele, seu caráter atraiu muita gente. Ele era conhecido por sua profunda paz e muitos vinham buscar com ele orientação espiritual. A sabedoria que lhes passava por meio de conversas e de cartas tornou-se mais tarde a base para a publicação do livro A Prática da Presença de Deus. Essa obra foi compilada, depois que o Irmão Lourenço faleceu, por uma dessas pessoas que ele inspirou, o Padre Joseph de Beaufort, mais tarde vigário geral do Arcebispo de Paris. O livro tornou-se popular tanto entre católicos como entre protestantes. John Wesley e A. W. Tozer destacam-se entre os que recomendavam a sua leitura.

Quando era jovem, a pobreza forçou Nicholas Herman a entrar no exército, para dessa forma garantir comida e um pequeno salário. Durante esse período, ele teve uma experiência que o colocou numa jornada espiritual sem paralelo; não foi uma visão sobrenatural característica, mas foi uma clareza sobrenatural acerca de uma visão comum.

No auge do inverno, Herman olhou para uma árvore estéril, despida de folhas e frutos, aguardando silenciosa e pacientemente a chegada certa da abundância do verão. Olhando demoradamente aquela árvore, Herman percebeu pela primeira vez a extravagância da graça de Deus e a infalível soberania da Providência divina. Assim como aquela árvore, ele mesmo estava aparentemente morto, mas Deus possuía vida para ele, e a mudança das estações traria abundância. Naquele momento, disse ele, aquela árvore sem folhas “fez brotar em minha alma a realidade de Deus e fez arder em mim um amor a Deus que nunca mais cessou”. Algum tempo depois, um ferimento o forçou a retirar-se do exército, e depois de trabalhar um tempo como empregado, procurou um lugar onde poderia conviver com as suas deficiências. Dessa forma, ele entrou para o monastério dos Carmelitas Descalços em Paris como Irmão Lourenço.

Ele foi colocado na cozinha do monastério, onde, no meio das tediosas obrigações de cozinhar e limpar sob as constantes ordens dos seus superiores, ele desenvolveu a sua regra de espiritualidade e trabalho. Em suas Máximas, o Irmão Lourenço escreve: “Os homens inventam meios e métodos de chegar ao amor de Deus, aprendem regras e montam artifícios para lembrá-los desse amor, e isso parece um mundo de confusão para trazer alguém à consciência da presença de Deus. Mas isso pode ser muito simples. Não é mais rápido e fácil apenas fazer nossas obrigações comuns inteiramente por amor a Ele?”

Para o Irmão Lourenço, as “obrigações comuns”, sem importar o quanto fossem deste mundo ou rotineiras, eram o instrumento do amor de Deus. O problema não era a sacralidade ou o aspecto secular da tarefa, mas a motivação por trás dela. “E também não é necessário que tenhamos grandes coisas para fazer... Nós podemos fazer pequenas coisas para Deus; eu viro o bolinho que está fritando na panela por amor a Ele, e, depois disso, se não há nada mais que eu tenha de fazer, prostro-me em adoração diante dele, que me concedeu graça para trabalhar; depois disso eu me levanto mais feliz que um rei. Para mim é suficiente ajuntar mesmo que seja uma palha do chão por amor a Deus.”

O Irmão Lourenço recolheu-se a um lugar em seu coração onde o amor de Deus concedeu a cada detalhe da sua vida um valor inigualável. “Eu passei a viver como se não houvesse ninguém no mundo, a não ser Deus e eu.” Juntos, Deus e o Irmão Lourenço, cozinhavam refeições, desempenhavam serviços para os outros, lavavam panelas e sofriam o desprezo do mundo.

Ele admitia que o caminho para esta perfeita união não era fácil. Gastou anos disciplinando o coração e a mente para entregar-se à presença de Deus. “Sempre que eu podia, colocava-me como adorador diante dele, concentrando a mente na Sua santa presença, trazendo-a de volta quando percebia que se desviava dele. Com frequência, isso era um exercício trabalhoso, mas eu persisti apesar de todas as dificuldades.”

Somente quando se contentou com o pensamento de que esse esforço e desejo eram o seu destino, ele encontrou uma nova paz: a sua alma “chegou ao seu próprio lar e lugar de descanso”. Ali ele gastou o restante dos seus 80 anos, morrendo em quase total anonimato e dor e perfeita alegria.

[Fonte: Wikipedia]