Literatura para uma vida cristã sadia

Lições de um fiel desconhecido - A. W. Pink

Lições de um fiel desconhecido

A. W. Pink

 

“Veio um homem de Baal-Salisa e trouxe ao homem de Deus pães das primícias” (2Rs 4.42).

Repare a naturalidade com que a conduta desse homem anônimo é apresentada. Aqui estava alguém que se compadeceu do servo do Senhor num tempo de necessidade, que pensou nele naquela época de escassez e necessidade, e que se dispôs a passar dificuldades para ministrar a Eliseu. Salisa estava próxima do monte Efraim
(1Sm 9.4), e era provavelmente necessária uma jornada de considerável distância para chegar até o profeta. Ah, mas havia mais coisas por trás da ação desse homem, do que parece; temos de olhar mais atentamente se quisermos descobrir as causas daquilo que ele fez. Está escrito: “O SENHOR firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz” (Sl 37.23) [1]. E foi isso o que aconteceu no caso que estamos considerando. Esse homem auxilia Eliseu, nesse momento, porque Deus operou nele “tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). É somente por meio da comparação de Escritura com Escritura que podemos descobrir completamente o significado de cada versículo.

Antes de seguir adiante, apliquemos a nós mesmos a verdade a que acabamos de chamar sua atenção. Ela tem estreita ligação com cada um de nós, e é uma verdade que precisa ser destacada nestes dias de ateísmo corrente. Está inteiramente na moda, em nossa perversa geração, estar tão envolvido com as chamadas “leis da Natureza”, que as ações do Criador se perdem de vista; o homem e os seus feitos são tão elogiados e deificados, que a mão de Deus na providência fica totalmente obscurecida. Deve ser diferente, com o santo. Quando algum amigo vem e ministra às suas necessidades, embora você fique grato a ele, olhe acima dele e da sua bondade para Aquele que o enviou. Talvez eu ore assim: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje”, e então, por estar tão absorto com as causas secundárias e com os instrumentos que Ele talvez empregue, eu deixo de ver a mão do meu Pai, quando Ele graciosamente atende a minha petição. Deus é o doador de tudo, tanto o que é temporal, como o que é espiritual, mesmo que Ele use agentes humanos para transportar as Suas bênçãos.

 “Veio um homem de Baal-Salisa”. Essa cidade era originalmente chamada “Salisa”, mas o poder maligno exercido por Jezabel cunhou sobre ela o nome do seu falso deus, como foi o caso com outros lugares (cf. “Baal-Hermom” — 1Cr 5.23). Mas até mesmo nesse lugar de idolatria havia pelo menos um que temia o Senhor, que se regulava por Sua lei, e que tinha um coração sensível para com o Seu servo. Isso deveria ser motivo de conforto para os santos, num tempo como o nosso, em que prevalece tão terrível e frequente decadência. Por mais negras que se tornem as coisas — e cremos que elas haverão de tornar-se muito mais negras antes que haja qualquer melhora — Deus haverá de preservar para Si mesmo um remanescente. Ele sempre fez isso, e sempre haverá de fazê-lo. No mundo antediluviano, havia um Noé que, pela graça, era justo no meio da sua geração e andava com Deus. No Egito, quando o nome de Jeová se tornara desconhecido entre os hebreus, foi levantado um Moisés, que recusou ser chamado filho da filha de faraó. Assim também agora, um aqui outro ali são como voz no deserto. Embora não nos seja informado o nome desse homem de Salisa, não temos dúvida de que o seu nome esteja escrito no Livro da Vida.

 “Veio um homem de Baal-Salisa e trouxe ao homem de Deus pães das primícias” (2Rs 4.42). Outra vez destacamos que encontramos aqui mais do que um olhar descuidado pode perceber ou do que aquilo que fica óbvio para um exame descuidado. Se quisermos aprender o significado mais profundo do que está registrado aqui, temos de examinar e comparar outras passagens que fazem menção das “primícias”. Assim descobriremos que o gesto desse homem significou algo mais do que mera consideração e bondade para com Eliseu. “As primícias, os primeiros frutos da tua terra, trarás à casa do SENHOR, teu Deus” (Êx 23.19 – ARC, 34.26). As “primícias”, então, pertencem ao Senhor. Elas são um reconhecimento tanto da Sua bondade como do Seu direito de propriedade. Uma bela e mais completa passagem nós encontramos em Deuteronômio 26.1-11. Aprendemos, de Números 18.8-13, que as primícias se tornavam a porção dos sacerdotes. “Os primeiros frutos de tudo que houver na terra, que trouxerem (eles, o povo) ao SENHOR, serão teus (de Arão e dos filhos dele); todo o que estiver limpo na tua casa os comerá” (Nm 18.13). A mesma coisa valia no templo reconstruído: “E as primícias de todos os primeiros frutos ... serão dos sacerdotes” (Ez 44.30).

Esse homem de Salisa, então, estava agindo, em princípio, em obediência à lei de Deus. Dizemos “em princípio”, porque estava prescrito que as primícias deviam ser levadas à “casa do Senhor” e que elas se tornassem a porção dos sacerdotes. Mas esse homem pertencia ao reino de Israel e não ao de Judá; ele vivia em Samaria e não tinha acesso a Jerusalém, e mesmo que fosse até lá, ser-lhe-ia proibida a entrada no templo. Em Samaria não havia sacerdotes do Senhor, apenas os de Baal. Mas embora ele não seguisse à risca a letra da lei, ele certamente o fazia quanto ao espírito, pois reconheceu que essas primícias não serviam para o seu próprio uso; e embora Eliseu não fosse sacerdote ele era um profeta, um servo do Senhor. É por essa razão, cremos, que está escrito que o homem trouxe as primícias não a “Eliseu”, mas ao “homem de Deus”. Esse nome aparece a primeira vez em Deuteronômio 33.1, referindo-se a Moisés, e descreve não o seu caráter, mas o seu ofício — alguém totalmente dedicado a Deus, alguém cujo tempo é total-mente empregado no Seu serviço. No Antigo Testamento, esse nome aplica-se somente aos profetas e aos mestres excepcionais (1Sm 2.27, 9.6; 1Rs 17.18). Já no Novo Testamento, parece que se aplica a todos os servos de Deus (1Tm 6.11; 2Tm 3.17).

Aquilo que destacamos acima deveria lançar luz sobre um problema que no presente é motivo de perturbação para muitas almas conscienciosas e deveria trazer conforto nestes dias maus. A situação de muitos do povo de Deus se assemelha bastante à situação que prevalecia quando ocorreram os fatos que estamos co-mentando. Era um tempo de apostasia, quando tudo estava fora de ordem. É essa a situação presente da Cristandade. É a clara obrigação do povo de Deus prestar obediência à letra da Sua Palavra onde quer que isso seja possível; mas quando isso não é possível, eles podem fazê-lo em espírito. Daniel e seus companheiros hebreus não podiam observar a festa da Páscoa na Babilônia, e sem dúvida isso era motivo de profundo pesar para eles. Mas esse mesmo pesar significava o desejo deles de observar a festa, e nesses casos Deus considera o desejo como se fosse a prática daquilo que é desejado. Por muitos anos, no passado, este escritor e a sua esposa se viram incapacitados de celebrar a ceia do Senhor. Contudo, (pela graça) fizemos isso em espírito, ao lembrarmos a morte do Senhor pelo Seu povo em nosso coração e em nossa mente. “Não deixemos de congregar-nos” (Hb 10.25) está muito longe de significar que as ovelhas de Cristo precisam frequentar um lugar onde predominam os “bodes”, ou um lugar onde a sua presença encorajaria aquilo que desonra o seu Senhor.

Antes de prosseguirmos, deveríamos destacar uma outra lição instrutiva e animadora, aqui, para o santo humilde. Esse homem de Salisa, agindo segundo o espírito da lei de Deus, dirigindo-se com suas primícias ao lugar onde Eliseu estava, não podia nem imaginar que por meio dessa ação ele contribuiria para um milagre extraordinário. Contudo foi exatamente isso o que aconteceu, pois esses pães dele se tornaram o meio de alimentar um grande número de pessoas, através da poderosa intervenção de Deus. E essa é uma simples ilustração de um princípio que, sob o governo de Deus, ocorre com frequência, como provavelmente a maioria de nós já deve ter testemunhado. Ah, meu leitor, nós nunca sabemos a extensão dos efeitos e quais frutos podem provir para a eternidade do mais modesto ato feito para a glória de Deus ou para o bem de alguém do Seu povo. Quantas vezes algum cristão desconhecido, na bondade do seu coração, fez alguma coisa ou deu alguma coisa que Deus Se agradou de abençoar e multiplicar de tal forma e em tal extensão que nunca nem passou pela mente dele (ou dela).

 “Veio um homem de Baal-Salisa e trouxe ao homem de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada, e espigas verdes no seu alforje” (1Rs 4.42). A impressão que temos é que o Espírito Santo Se agradou em descrever essa oferta nos mínimos detalhes. Quando nos lembramos que naquele tempo havia grande escassez de alimentos, não podemos ver, na variedade das ofertas, consideração e cuidado da parte daquele que as fez? Se a oferta toda consistisse apenas em “pães” é possível que alguns deles mofassem antes de serem consumidos. Na melhor das hipóteses, teria sido necessário consumi-los rapidamente. Para que isso não acontecesse, parte da cevada foi trazida no alforje. Por outro lado, se tudo tivesse sido trazido em forma de espiga, teria sido necessário tempo para moer e assar, e nesse meio tempo o profeta poderia padecer fome e fraqueza. Mas ao dividir as coisas como fez esse homem, evitou tanto um problema como o outro. Disso tudo, somos ensinados que, ao presentear alguém ou ao ministrar às suas necessidades, deveríamos ser cuidadosos para que isso aconteça da melhor forma que a sua situação requer. A prática desse princípio abrange tanto as coisas espirituais como as temporais.


[1] Compare com Provérbios 20.24.

 

Procurar no site

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Aplica-te ao estudo da Palavra.

 

Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).

 

 

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)

 

 

Orar bem é estudar bem.

 

 

Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).

       

   Em tudo dai graças (1Ts 5.18).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)

 

 

 

 

     

A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
 
Deus tudo vê

 

Não temais, pequenino rebanho.

 

 

 

Deus existe e é galardoador daqueles que diligentemente O buscam. - Hebreus 11.6

Crie o seu site grátisWebnode