Maledicência
A. W. Pink
“O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína” (Pv 13.3). “Um guarda nos lábios é um guarda para a alma — aquele que é cuidadoso, que pensa duas vezes antes de falar uma vez, aquele que, se chegou a pensar o mal, põe a mão na boca para suprimi-lo, aquele que põe rédea curta na própria língua, e exerce controle rígido nessa rédea — esse guarda a própria alma de muita culpa e tristeza, e se poupa da angústia de muitos erros e de tristes observações dos outros” (Matthew Henry). Infelizmente, quantos não há que dizem — com os lábios e com as próprias atitudes — “os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?” (Sl 12.4).
”Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tg 4.11). Não é essa uma palavra muito necessária para alguns de nós, hoje? Infelizmente, em alguns lugares o hábito de difamar os outros pelas costas se tornou tão comum, que isso é quase considerado como algo normal. Contar aos outros os defeitos dos irmãos ou as falhas das irmãs, contar adiante notícias negativas que ficamos sabendo — isso tudo é tão comum, que são poucos que se dão conta de que isso é um mal. Apesar disso, Deus continua dizendo: ”Irmãos, não faleis mal uns dos outros”. Sim, não somos poucos os que precisamos receber essa exortação como dirigida a nós mesmos. Pessoalmente, preciso reconhecer com vergonha que esse mandamento de Deus não tem tido a influência restritiva que deveria ter sobre a minha língua incontrolável. E no restante deste artigo quero pregar a mim mesmo tanto quanto prego aos outros. Quão solene é observar que um dos pecados mencionados na terrível lista de Romanos 1.29-31 é a maledicência ou prejudicar a reputação dos outros, “difamadores, caluniadores”. É assim que se manifesta a depravação da natureza humana pervertida. Manchar a boa reputação de outra pessoa é altamente repreensível.
Deus ordenou que amemos o nosso próximo como a nós mesmos, e isso exige que eu me interesse não apenas por sua pessoa e propriedade — mas também que eu proteja o seu bom nome. “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas” (Pv 22.1). Por isso, roubar de alguém o seu bom nome é pior do que roubar-lhe a propriedade. Por isso é que se diz a respeito do morador de Sião: “não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho” (Sl 15.3).
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tg 4.11). Aquilo que se proíbe aqui é dizer qualquer coisa, verdadeira ou falsa, que prejudique alguém. Deus exige que nossas palavras sejam reguladas pela “lei da beneficência (disposição benéfica)” (Pv 31.26 – ARC), e qualquer coisa que possa ferir ou prejudicar a reputação de outrem deve ser firmemente evitado. Se não posso falar bem de meu irmão ou de minha irmã, não devo dizer nada. É demoníaco o prazer de expor as falhas de companheiros cristãos, e provocar prejuízo e suscitar sentimentos amargos contra eles (Ap 12.10). Deus requer que nossas palavras tanto expressem amor como também verdade. Uma vez que os cristãos são irmãos, a última coisa de que deveriam ser culpados é difamarem uns aos outros.
“Não apliques o coração a todas as palavras que se dizem” (Ec 7.21). “Cessa, meu filho, de ouvir a instrução que te faz desviar das palavras da sabedoria” (Pv 19.27[1]). Tome cuidado com ouvir o mal! Aqueles que escutam histórias a respeito dos outros, que se deliciam em ouvir sobre as falhas dos seus irmãos, encorajam os maledicentes em seu pecado e participam juntamente com eles da sua culpa. “O vento do norte traz chuva; e a língua caluniadora, o rosto irado” (Pv 25.23 – Trad. Brasileira). Ao cristão não é ordenado apenas que ele mesmo se abstenha da maledicência, mas que deve desencorajar esse pecado nos outros, desaprovando-o e esforçando-se a expressar o seu desagrado com a sua prática. As calúnias não seriam feitas com tanto prazer se não houvesse quem as ouvisse com tanto gosto. “Há muitos que insultam aqueles de quem o interlocutor está falando mal, com o único objetivo de bajular a pessoa com quem estão conversando” (Matthew Henry). Frustre o caluniador, mostrando-lhe a sua desaprovação para com o que ele está fazendo.
Uma vez que é um grave pecado falar mal de um irmão em Cristo, quão maior é a transgressão quando é cometida contra um dos Seus servos, contra um ministro! É verdade, eles não são infalíveis, mas as suas deformidades não devem ser espalhadas — mas devem ser cobertas com o manto do amor. “...como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Nm 12.8) — repare a ênfase — vocês já deveriam temer falar mal de qualquer outra pessoa, quanto mais do Meu honrado servo! Está escrito: “Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (1Tm 5.19). É por nossa conta e risco que falamos ou fazemos qualquer coisa contra os servos de Deus, pois Ele ajusta as contas com aqueles que tocam “na menina do seu olho” (Zc 2.8). A sua ordem expressa é esta: “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas” (Sl 105.15).
Falar mal dos outros tem sua origem na malevolência ou na malícia, no desejo de que a pessoa se torne condenável aos olhos dos outros, ou vem da inteira indiferença quanto ao efeito que se produzirá. Dizer que não se intenciona fazer mal nenhum é falar como um louco: “Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira” (Pv 26.18-19). Muita notícia a respeito dos outros é espalhada por causa da descaridosa prontidão de crer o pior a respeito dos outros: “Porque ouvi a murmuração de muitos: Há terror por todos os lados! Denunciai, e o denunciaremos!” (Jr 20.10). Mas a principal causa desse mal é uma língua insubordinada, e nós não clamaremos por graça para refrear esse membro enquanto realmente não tivermos consciência desse pecado.
É impressionante notar quantas vezes o Espírito Santo Se dirige aos filhos de Deus a respeito desse assunto. São muitos os versículos no Livro dos Provérbios que trazem instrução benéfica para o uso correto da língua. Assim também no Novo Testamento com frequência aparecem exortações contra o mau uso da língua. “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia” (Ef 4.31); “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal” (Cl 4.6).
1Pedro 2.1-2: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação”. É preciso que todos os dias nos “despojemos” de forma definida desses maus hábitos, se quisermos preservar um apetite saudável pelas coisas espirituais. “Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente” (1Pe 3.10). Aqui está um dos mandamentos da longevidade; a “maledicência” tem um efeito danoso sobre a saúde maior do que muitos imaginam!
Mas será que sempre é pecado falar mal de alguém? Não, embora nesse assunto seja difícil manter-se longe do pecado. Há ocasiões quando é nosso dever prevenir nossos amigos contra aqueles que podem tentar causar-lhes dano. Se eu sei que alguém está para comprar um artigo que foi apresentado com propaganda enganosa, ou que vai confiar algum dinheiro a uma pessoa desonesta, então eu preciso com lealdade alertá-lo. Se eu fosse convocado como testemunha num tribunal, estaria obrigado a dizer o que sei. Contudo, em situações em que a glória de Deus ou a honra do Seu Evangelho estão em jogo, ou onde existe perigo ou injustiça ameaçando um irmão e meu dever de falar é claro, ainda é preciso prestar atenção às seguintes precauções.
Primeiro, faça todo esforço para confirmar plenamente aquilo que você ouviu, e tenha certeza de que é verdade aquilo que vai relatar.
Segundo, faça tudo com um espírito correto — não de forma censuradora, não com prazer — mas com santo desgosto.
Terceiro, seja imparcial, e, se a ocasião exigir que você mencione os erros alheios, seja cuidadoso para não ocultar as suas virtudes.
A não ser nos casos em que a glória de Deus o exige e o bem do nosso próximo ou irmão o requer — devemos refrear-nos de falar mal dos outros. Se estivermos devidamente ocupados e humilhados com nossos próprios erros, não teremos tempo nem disposição para nos ocuparmos com os dos outros ou para publicá-los. Se atendermos devidamente à exortação de Filipenses 4.8, haveremos de cultivar o hábito de admirar as virtudes de nossos irmãos — em vez de, como moscas imundas, sentar nas suas feridas. Uma coisa é certa: se não somos cuidadosos e gentis com a reputação dos outros, Deus nos fará provar o amargor dessa aflição por experiência própria: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7); “Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7.2).
Quão solene é esta palavra: “falando mal de vós, os quais darão conta àquele que está preparado para julgar vivos e mortos” (1Pe 4.4-5 – Tradução Brasileira). Faremos bem se orarmos assim: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).
Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Aplica-te ao estudo da Palavra.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).
Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)
Orar bem é estudar bem.
Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).
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Em tudo dai graças (1Ts 5.18).
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)
A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
Deus tudo vê
Não temais, pequenino rebanho.