Literatura para uma vida cristã sadia

O controle da língua - John Newton

O controle da língua

John Newton

 

Talvez não exista teste mais simples, ou evidência mais clara e infalível da realidade da operação da graça no coração humano do que o conteúdo geral da nossa linguagem, da nossa conversa. Isso porque o provérbio de nosso Senhor se aplica com exatidão universal: “A boca fala do que está cheio o coração”. Com essa mesma finalidade, o apóstolo Tiago apresenta, a todos que professam o evangelho, um critério perscrutador da sinceridade deles, quando diz: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã”. Não devemos considerar essa passagem como uma palavra dura, uma vez que ela está na Bíblia; mas, pelo fato de constar na Bíblia, e fazer parte do critério pelo qual o caráter e o estado de todo homem, no final, serão julgados, há motivo para temer que essa seja uma palavra dura, afinal, para muitos que professam o nome de Cristo. Acredito que uns poucos pensamentos sobre esse importante assunto — “o controle da língua” — não serão jamais inoportunos.

O que o apóstolo ordena não é a repressão do que temos no coração. Ele sabe que, embora seja nossa obrigação vigiar contra os primeiros impulsos do mal dentro de nós, e os mortificarmos — não está sob nosso controle evitá-los por completo. Mas ele supõe que a graça de Deus num crente verdadeiro haverá de controlar os males do coração, e impedir que irrompam por meio da língua.

Também o controle da língua não deve ser considerado tão rigidamente, como se um crente verdadeiro não mais fosse capaz de falar de forma imprudente. e Jeremias amaldiçoaram o dia do próprio nascimento deles; e Pedro não apenas negou o seu Senhor — mas negou-O com juramentos e praguejando. Admito que o melhor dos homens, numa hora irrefletida, e sob a pressão de alguma súbita e violenta tentação ou provocação, possa de vez em quando agir ou falar de forma incompatível com o seu gracioso caráter habitual. Mas penso que o apóstolo pretende dizer, no mínimo, que, quando a graça salvadora se encontra no coração, ela haverá de regular e controlar a língua de tal forma, que a pessoa não pecará de forma habitual. E também que, sem alguma evidência desse regular e controlar da língua, não somos constrangidos a reconhecer ninguém como cristão, não importa quão esplêndida seja a sua profissão de fé em outras áreas. Mais ainda, penso que podemos dizer desse teste aquilo que os magos do Egito reconheceram numa outra circunstância: “Isto é o dedo de Deus!” Esta é, talvez, a única marca exterior de um crente, que o hipócrita não consegue imitar. Em muitas coisas ele talvez possa parecer religioso; em algumas, talvez, ele pareça ultrapassar o cristão verdadeiro; mas, pelo fato de o coração dele não ter sido transformado — ele não consegue refrear a língua.

Aquele que parece religioso, e que deseja ser considerado religioso, pode apresentar várias qualificações que apoiam suas reivindicações, qualificações essas que podem ser valiosas e recomendáveis em si mesmas, e contudo não têm utilidade alguma para quem as possui, se ele não refreia a língua. Talvez ele tenha muito conhecimento religioso; refiro-me ao tipo de conhecimento que se pode adquirir pelo uso dos meios comuns. Talvez ele possua um zelo entusiasmado, e combata sinceramente (à sua própria maneira) pela fé uma vez entregue aos santos. Talvez ele seja capaz de conversar bem sobre assuntos espirituais, e orar com liberdade e fervor. Sim, ele pode até ser um pregador, comportando-se de forma satisfatória até mesmo na opinião de cristãos sinceros. Ou ele pode ser um comerciante honesto, um bom vizinho, um bom patrão, um amoroso marido ou pai, livre de vícios grosseiros, e constantemente participando dos cultos e das ordenanças. Um homem desses, olhando para si mesmo, não se julgará uma pessoa religiosa? E não será ele estimado assim também pelos outros? Contudo, se, com todas essas boas qualidades, ele não refrear a língua — dele se dirá que lhe falta a única coisa obrigatória. Ele enganou o seu próprio coração! A sua religião é vã!

Mas o que devemos entender por refrear a língua? A expressão, penso eu, será explicada de forma adequada se considerarmos como a graça de Deus haverá de influenciar obrigatoriamente e controlar a língua daqueles que participam dela, naquilo que dizem 1º) quando falam de Deus, 2º) quando falam de si mesmos, e 3º) quando falam a respeito dos seus semelhantes ou com os seus semelhantes.

Uma vez que tiveram um vislumbre da santidade e da majestade, da glória e da graça do grande Deus com quem eles haverão de tratar — o coração deles está profundamente influenciado pela reverência, e por essa razão há uma sobriedade e uma decência na sua linguagem. Eles não conseguem falar levianamente a respeito de Deus, ou dos Seus caminhos. Supõe-se que ninguém que pelo menos pareça religioso possa profanar de forma direta e expressa o Seu glorioso nome. Mas há uma forma descuidada e irreverente de falar a respeito do grande Deus, que é extremamente desagradável e muito suspeitosa. Dessa mesma forma, o coração dos crentes ensina a sua boca a falar de forma honrosa a respeito de Deus quando se encontram em aflição, sob as suas cruzes, reconhecendo a sabedoria e a misericórdia das Suas dispensações; e, se lhes escapa uma palavra impaciente, isso os entristece e humilha, como que tornando inadequada a situação deles como criaturas Suas, e em especial como criaturas pecadoras, que têm sempre razões para reconhecer que é devido à misericórdia do Senhor que eles não são totalmente consumidos.

Quando eles falam de si mesmos, sua língua é refreada, e reprimida para não gabar-se. Eles falam como convém a pobres e indignas criaturas — porque eles se sentem assim. Naquilo que dizem, tanto a respeito das suas consolações como das suas tristezas, é a sinceridade que dita a simplicidade que não se pode falsificar facilmente. Ao passo que aqueles cuja língua não é assim refreada, muitas vezes se traem pela falta de sinceridade, mesmo quando estão lamentando a própria pecaminosidade e a mesquinhez do seu coração.

Naquilo que dizem dos outros ou a respeito dos outros, a língua dos crentes é refreada por um coração revestido de verdade, amor e pureza.

Onde a graça está no coração, a língua será refreada pela lei da verdade. É doloroso ver quão perto e quão prontamente alguns que professam a religião se arriscam nos limites de uma mentira; quer seja para defender a sua própria conduta, ou para evitar alguma situação inconveniente, ou para conseguir uma suposta vantagem, ou às vezes apenas para enfeitar uma história. Admitindo a possibilidade de uma pessoa sincera de repente ver-se contando uma mentira — contudo, onde ocorrências desse tipo são frequentes, eu desconheço uma mancha mais odiosa em alguém que se confessa religioso, ou que com justiça dê mais motivos de recear que essa pessoa não conheça nada corretamente nem a respeito de Deus nem a respeito de si mesma. O Senhor é um Deus de verdade; e Ele ensina aos Seus servos a odiar e detestar a mentira, e a falar a verdade de coração. Posso acrescentar, igualmente, o assunto das promessas que se fazem — que, embora a lei do país em que moramos exija, em várias ocasiões, juramentos e contratos para assegurar que sejam cumpridos, a pessoa em cuja palavra sozinha, sem contrato ou juramento, não se pode confiar, dificilmente merece o nome de cristão!

Onde a graça está no coração, a língua será igualmente refreada pela lei do amor. Se amamos o nosso vizinho, será que conseguimos sem motivo falar mal dele, exagerando os seus defeitos, ou falando com ele de forma provocativa e insultuosa? O amor não pensa o mal, mas tolera, espera e aguenta. O amor age por meio da regra áurea: “Faça aos outros aquilo que você gostaria que fizessem a você”. Aqueles que estão sob a influência do amor cristão, são gentis e compassivos, dispostos a fazer as mais favoráveis concessões, e é evidente que a língua deles será refreada da linguagem malévola, da censura áspera, e da calúnia —  coisas que nos são familiares como a nossa língua materna, até que sejamos feitos participantes da graça de Deus.

A língua também é refreada pelo respeito à pureza, de acordo com os seguintes mandamentos: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”; “nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças” (Ef 4.29, 5.4). A graça ensinou os crentes a odiarem essas coisas; como pode então a língua deles falar essas coisas? De fato, há falsos confessores que conseguem adequar a sua linguagem ao tipo de companhia em que se encontram. Quando estão com o povo de Deus, conversam muito seriamente. Mas em outras ocasiões, sentem-se à vontade para participar de conversas vãs, superficiais e corruptas. Mas essa mente dividida é por si mesma razão suficiente para desacreditar toda a sua pretensão de possuir um caráter piedoso.

De modo geral, embora não se espere a perfeição, embora os crentes verdadeiros possam, em algumas ocasiões, falar imprudentemente, e tenham grande motivo de humilhar-se, vigiar, e orar, com referência ao controle da língua; contudo penso que as Escrituras, e em particular o apóstolo Tiago, na passagem que mencionei no início deste artigo, nos autorizam a chegar à seguinte conclusão:

Se a língua com frequência está sem freio; se se observar que uma pessoa com frequência fala levianamente a respeito de Deus e das coisas divinas; se essa pessoa costuma gabar-se; se fala de modo grosseiro dos seus semelhantes; se é possível dizer que essa pessoa é mentirosa, mexeriqueira, insolente, bajuladora, ou gracejadora — então, não importando quais outras boas qualidades essa pessoa apresente — a sua linguagem trai a sua verdadeira condição! Essa pessoa engana a si mesma, a sua religião é vã.

Meditemos nessas coisas, e imploremos ao Senhor que lance o sal da Sua graça na fonte do nosso coração[1], a fim de que a direção da nossa conversa se torne saudável.



[1] 2 Reis 2.19-22.

 

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