Literatura para uma vida cristã sadia

Ouvir e fazer - J. R. Miller

Ouvir e fazer

J. R. Miller

 

O Sermão do Monte nos revela o tipo de gente que os cristãos devem ser. As bem-aventuranças com que inicia são descrições de um caráter que se assemelha ao próprio Deus.

Certa lenda conta que, quando Adão e Eva foram expulsos do Éden, um anjo despedaçou as portas, e os fragmentos voaram para todos os cantos da terra. As joias e pedras preciosas que se encontram agora nas diferentes partes do mundo são esses fragmentos das portas do paraíso. Isso é apenas uma lenda — mas é verdade que, nos mandamentos, nas bem-aventuranças, e em outras revelações de Deus a respeito do seu caráter, encontramos fragmentos da sua imagem que havia na alma do homem no princípio — mas que foram dispersos quando o homem caiu em pecado.

O Sermão do Monte está repleto desses fragmentos resplandecentes que devemos examinar com a finalidade de aprender o propósito de Deus para a nossa vida. Vamos examinar algumas dessas palavras luminosas.

 

I

O Senhor disse: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” (Lc 6.41).

É estranho como podemos ser tão cegos quanto aos nossos próprios erros e defeitos; e ao mesmo tempo podemos ver com tanta clareza os erros e os defeitos das outras pessoas! O homem pode enxergar um pequeno cisco no olho do seu vizinho, ao mesmo tempo em que não percebe a tábua que está no seu próprio olho.

Seria de pensar que uma tábua no olho de uma pessoa a deixaria tão cega que ela não poderia ver o grãozinho no olho do seu irmão. Porém, da forma que Jesus o coloca, o homem com a tábua é exatamente aquele que vê o cisco — e se considera capaz de removê-lo!

É isso que acontece no dia-a-dia normal. Ninguém é tão perspicaz para ver os erros dos outros como aquele que tem, ele mesmo, algum grande erro.

Um homem vaidoso é o primeiro a detectar indícios de vaidade em outro homem. Uma pessoa de mau gênio tende a censurar com mais facilidade o outro que se mostra irritado. Aquele que tem uma língua afiada e descontrolada é o que tem menos paciência com a pessoa cuja linguagem é cheia de flechas venenosas.

Um homem egoísta consegue descobrir pequenos grãozinhos de egoísmo no seu vizinho. As pessoas brutas são as primeiras que se ferem com a grosseria dos outros.

Nossa rapidez em perceber defeitos e erros nos outros indica que é bem provável que temos erros iguais ou talvez bem maiores em nós mesmos! Essa verdade deveria fazer-nos extremamente cuidadosos em nosso julgamento, e deveria tornar-nos moderados na forma de censurar.

“Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu?” (Lc 6.42).

Nós não conhecemos as experiências pelas quais nosso irmão passou para ter recebido os ferimentos e cicatrizes que parecem tão feios, tão deformantes aos nossos olhos.

Não é de bom gosto que um cidadão critique o soldado que, após um dia de batalha, acaba de voltar da luta com o uniforme sujo e rasgado e o rosto cheio de sangue.

Quando olhamos de forma crítica o caráter do nosso irmão e percebemos nele traços que nos irritam, nós não temos nem ideia das batalhas cruéis que ele travou. As marcas que nós chamamos de erros podem ser as cicatrizes que ele recebeu nas duras batalhas da vida, podem ser marcas de honra, condecorações de bravura e lealdade — se apenas o soubéssemos!

Se conhecêssemos a verdadeira causa de tudo o que nos parece desagradável naqueles com quem nos encontramos, talvez tivéssemos mais paciência com eles.

Mas alguém pode perguntar: “Será que remover o cisco do olho de um amigo não seria uma expressão de gentileza com ele?” “Se encontramos um conhecido com uma brasa no olho, não seria bondoso parar e remover essa brasa do olho dele? Mesmo que tenhamos um enorme pedaço de carvão em brasa em nosso próprio olho naquela mesma hora, não seria uma ação gentil desejar o alívio de nosso companheiro sofredor? Não seria considerado como verdadeira gentileza o desejo de consertar o erro de outra pessoa, embora tenhamos o mesmo erro de forma mais grave em nós mesmos?”

É, se o fizéssemos com o espírito correto, seria. Mas o problema é que nós não somos capazes de olhar dessa forma amorosa e compreensiva o erro do nosso próximo.

O que nosso Senhor está condenando aqui é o espírito farisaico. Alguém joga as mãos para os céus, horrorizado com o defeito que encontrou no caráter do seu vizinho; e o seu vizinho vê nele um defeito do mesmo tipo, só que muito pior!

Será que esse vizinho vai ser grandemente beneficiado pela repreensão que receber nessas circunstâncias?

Imagine alguém de temperamento esquentado ensinando você a respeito do pecado da irritação; ou alguém desonesto dando-lhe uma lição de moral sobre uma aparente falta de honestidade sua. Ou um mentiroso ensinando-lhe sobre a perversidade da mentira; ou uma pessoa descortês reprovando você por uma pequena descortesia sua. Ou um hipócrita repreendendo-o por sua insinceridade.

Qual é o bem que essas repreensões lhe fazem, mesmo admitindo que você esteja ciente dos erros que cometeu?[1]

“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão” (Lc 6.42).

 

II

“Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto.  Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas” (Lc 6.43-44). Isso é algo bem claro quando se trata de árvores.

A natureza jamais se desvia das suas leis estabelecidas. Ninguém espera colher uvas de espinheiros; e ninguém jamais encontrou algum espinho crescendo nalgum pé de maçã.

Cada árvore produz o seu próprio tipo de fruta. A mesma coisa é verdade quando se trata da vida. Um coração mau não produz um caráter bom, nem produz ações belas e santas. É uma lei da vida que “como o homem imagina em seu coração, assim ele é” (Pv 23.7).

Tudo isso nós vemos aqui no próximo versículo: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45). Os pensamentos criam a vida. O templo foi erguido em silêncio no monte Moriá; não se ouviu barulho nem de martelo nem de machado durante todo o tempo em que estava sendo erguida aquela construção porque lá nas pedreiras nas montanhas e nas oficinas nos vales todas as pedras e cada pedaço de madeira tinham sido modelados e ajustados com perfeição antes de serem trazidos para serem colocados no lugar apropriado.

Nosso coração é a pedreira e a oficina, e nossos pensamentos são os blocos de pedra e os pedaços de madeira que são preparados e então trazidos para cima e colocados em silêncio na parede do templo do nosso caráter.

Cultive pensamentos bonitos e a sua vida será bonita. Nutra impulsos santos, sentimentos altruístas, desejos nobres e a sua conduta refletirá beleza, pureza e nobreza a todos que olharem para você.

A pintura numa tela é antes de tudo um sonho, um pensamento na mente do artista. Dessa mesma forma, todas as coisas bonitas que fazemos nascem de pensamentos bonitos dentro de nós. Por outro lado, alimente pensamentos pecaminosos e sua vida se encherá de pecado; abrigue pensamentos impuros e seu caráter ficará manchado e sujo; pense com amargura e crueldade e sua vida se encherá de aspereza, fel e ressentimento. Não é de admirar que a Bíblia nos ordene: “Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23 – Tradução Brasileira).

Se queremos ser piedosos e viver corretamente, precisamos ter nosso coração renovado pela graça de Deus. Se Cristo vive em nós, tudo estará bem.

III

“Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6.46). Confessar a Cristo é uma coisa boa, mas, a não ser que a vida corresponda a essa confissão, tudo não passa de zombaria! Não basta honrar Cristo diante dos homens, orando a ele e atribuindo-lhe poder e glória. Jesus nos diz que só entram no céu aqueles que na terra fazem (obedecem) a vontade do Pai que está nos céus. A confissão de Cristo precisa sempre ser acompanhada e comprovada pela obediência e santidade daquele que faz a confissão.

“Só à tua cruz eu me apego” não é todo o evangelho da salvação; é apenas a metade. Ninguém está realmente apegado à cruz se ao mesmo tempo não estiver seguindo fielmente a Cristo e fazendo tudo o que ele ordena. Não há jeito de entrarmos no céu — jamais — a não ser que primeiro o céu tenha entrado em nosso coração. Nós faremos a vontade de Deus no céu quando chegarmos lá; mas precisamos aprender a fazê-la aqui na terra, ou nunca chegaremos lá.

“Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa” (Lc 6.47-49). Tudo depende de praticar ou não praticar as palavras de Cristo. Ambos os homens ouvem as palavras de Cristo, mas um deles obedece, e por isso lança seu alicerce sobre a rocha. O outro ouve, mas não obedece, e edifica sobre a areia.

Ambos os homens edificaram casas que provavelmente eram bem parecidas, no que diz respeito à aparência. Mas havia dois tipos de terreno naquela vizinhança.

Havia um vale amplo que ficava seco e agradável no verão, quando os homens procuravam edificar suas casas. E havia também altas encostas rochosas.

Um dos homens decide construir no vale. Seria menos dispendioso. Era fácil cavar, pois o terreno era macio. E era mais conveniente, pois as encostas eram difíceis de alcançar.

Já o outro homem procura mais adiante e decide construir em terreno elevado. O custo seria bem maior, mas seria mais seguro.

Assim, as duas casas foram construídas ao mesmo tempo, só que a do vale ficou pronta bem antes do que a outra.

Por fim, as duas famílias se estabeleceram nas duas residências com muita alegria.

Mas uma noite caiu um temporal. Choveu muito e a inundação desceu a montanha com toda a força.

A casa que tinha sido construída no vale foi carregada juntamente com seus moradores. A casa na encosta ficou intacta.

A ilustração fala por si mesma. Aquele que construiu no vale é o homem que só professa, mas de verdade nunca entregou a vida a Cristo, nem fez sua construção tendo a ele como fundamento.

Já o homem que construiu na rocha é aquele que tem fé genuína em Cristo, fé confirmada pela sua obediência viva.

As tempestades que sopram são as provações terrenas, e a tempestade da morte e do Juízo.

O simples professante da vida de fé, aquele que de fato não a possui é varrido por essas tempestades; pois o que ele tem debaixo de si é apenas areia.

Aquele que de fato está em Cristo está seguro; pois não há tempestade que possa atingir o escudo do amor de Cristo.

Que coisa terrível, cultivar uma falsa esperança de salvação durante toda a vida, e descobrir isso só no final! Descobrir que se construiu sobre a areia!



[1] Apesar de reconhecer a grande dificuldade de sermos repreendidos e ensinados por alguém que não aplica a si mesmo aquilo que tenta fazer com que nós pratiquemos, é preciso lembrar que o Senhor Jesus, em Mateus 23, mesmo chamando várias vezes os escribas e fariseus de hipócritas, ordenou aos seus discípulos: “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem” (verso 3).

Pelo bem da nossa própria alma, e com o sincero desejo de conformar nossa vida à vontade de Deus, convém levarmos em consideração mesmo esses instrumentos “indignos” que Deus se agrada de usar para nos corrigir e educar para sermos participantes da sua santidade (Hb 12.10). — N. do T.

 

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