Para saber, precisamos ficar quietos
A. W. Tozer
“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10).
Nossos pais tinham muito que dizer sobre aquietar-se, e com aquietar-se eles queriam dizer a ausência de movimento ou a ausência de barulho, ou ambos.
Eles sentiam que precisavam ficar quietos pelo menos uma parte do dia, ou esse dia teria sido desperdiçado. Deus pode ser conhecido no tumulto do mundo, se a Sua providência nos colocar por certo tempo ali, mas Ele é mais bem conhecido no silêncio. Isso eles sustentavam, e assim o declaram as sagradas Escrituras. A segurança interior provém da quietude. Precisamos ficar quietos para saber.
É improvável que tenha havido outro tempo na história do mundo quando se precisou mais da quietude do que hoje e com certeza não houve jamais outro tempo quando se viu tão pouca quietude ou quando foi tão difícil encontrá-la.
Cristo é contemporâneo de todos os homens. A Sua presença e o Seu poder são oferecidos a nós nesse tempo de atividade louca e de ruídos mecânicos tão certamente como foram oferecidos aos pescadores no tranquilo lago da Galileia ou aos pastores nas planícies da Judeia. A única condição é que fiquemos suficientemente quietos para ouvir a Sua voz e que creiamos e prestemos atenção ao que ouvirmos.
Algumas coisas podem ser aprendidas no barulho da vida moderna. No meio dos ruídos, podemos nos tornar engenheiros, cientistas ou arquitetos. Nessa monotonia, podemos aprender a pilotar um jato ou a administrar uma loja de departamentos. Podemos vencer uma disputa de atletismo, reger uma orquestra, obter um diploma universitário ou nos eleger a um cargo público. Fazemos essas coisas ao aceitar a civilização da maneira que ela é e nos ajustando a ela. Dessa forma, nos tornamos filhos do século vinte, e nossa psicologia adquire suas características do tempo em que vivemos. Movemo-nos tão graciosamente quanto podemos por entre os complicados passos da dança das circunstâncias, o barulho na verdade nos ajudando em nosso movimento; ou, sem saber por quem somos conduzidos, marchamos com a multidão de acordo com a estrondosa música que nos mantém no ritmo e acrescenta um pouco de prazer ao esforço despendido.
Essas coisas os homens podem fazer e de fato estão fazendo. Mas, quando começamos a duvidar da validade de uma filosofia baseada em ciência física e a questionar a sanidade de uma civilização que produziu a bomba H, e em especial quando começamos a tatear à procura de Deus, se porventura o pudermos encontrar, algo estranho e maravilhoso acontece. À medida que nos aproximamos da antiga Fonte de nosso ser, descobrimos que não somos nem sábios nem ignorantes, nem modernos nem fora de moda, nem incultos nem cultos, nem brancos nem negros; nessa aterradora Presença, nós somos meramente homens. As distinções artificiais desaparecem. Milhares de anos de educação desaparecem num momento e novamente nos vemos onde Adão e Eva se encontravam depois da Queda, onde estavam Caim e Abel, fora do Jardim, amedrontados e moralmente arruinados, em fuga por causa do terror da lei que transgrediram.
Ali, diante do trono do juízo que subitamente se torna tão real ao trêmulo pecador como se fosse o próprio dia do juízo final, nenhuma técnica religiosa moderna ajuda; nenhum dos métodos cuidadosamente bem pensados funciona. O homem civilizado, rodeado de suas mais recentes e barulhentas invenções, retrocede em seu coração todos os séculos de “progresso” e torna-se outra vez uma apavorada e choramingona criatura humana em desesperada necessidade de um Salvador.
Pelo fato de isso ser verdade, qualquer evangelização que, apelando aos interesses familiares e tagarelando sobre eventos atuais procura estabelecer um terreno familiar onde o pecador possa sentir-se à vontade, é tão falsa como os altares de Baal sempre o foram. Qualquer esforço para facilitar o caminho para os homens e para remover a culpa e a perturbação é pior do que desperdício; ele é mau e perigoso para as almas dos homens.
Um dos mais populares erros da atualidade, do qual provém a maior parte da barulhenta, tumultuosa e tola atividade religiosa que se vê nos círculos evangélicos de nossos dias, é a noção de que, como os tempos mudam, a igreja precisa mudar com eles. Os cristãos têm de adaptar seus métodos às exigências do povo.
Se eles querem sermões de dez minutos apenas, dê-lhes sermões de apenas dez minutos. Se eles querem a verdade em pequeninas doses, dê-lhes a verdade dessa forma. Se eles querem filmes, dê-lhes um montão de filmes. Se eles gostam de histórias, conte-lhes histórias. Se eles preferem captar sua instrução religiosa por meio de peças de teatro, apoie a ideia — dê a eles aquilo que querem. “A mensagem é a mesma, são só os métodos que mudam”, dizem os advogados da transigência.
“Aqueles a quem os deuses pretendem destruir, eles primeiro enlouquecem”, diziam os gregos de outrora, e eles eram mais sábios do que sabiam. Essa mentalidade que confunde Sodoma com Jerusalém e Hollywood com a Cidade Santa é por demais desencaminhada para ser explicada de outra forma senão como uma loucura imputada como juízo contra cristãos professos, por terem cometido ofensas contra o Espírito de Deus.
“Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo” (Is 6.9-10).
Mas alguma pessoa honesta pode pensar que, uma vez que não existe quietude neste mundo mecanizado, devemos então aprender a sobreviver sem ela. Não temos como esperar trazer de volta as calmas águas e os verdes pastos para onde Davi conduziu suas ovelhas. Esta civilização competitiva e insana é barulhenta demais para nós para ouvirmos a calma e suave Voz, por isso precisamos aprender a ouvir Deus falando no terremoto e na tormenta. E se o evangelismo moderno se adequou ao tumulto e à agitação destes tempos, por que haveria de alguém lamentar-se? Isso não representa um honesto esforço para ser tudo para todos os homens para que por todos os meios alguns sejam salvos?
A resposta é que a alma dos homens não muda, em sua essência, não importa quanto mudem as condições externas. O aborígene em sua cabana, o professor universitário em seu escritório, o motorista de caminhão no meio do caos do trânsito da cidade têm todos as mesmas necessidades básicas: precisam ver-se livres dos seus pecados, precisam obter vida eterna e ser trazidos à comunhão com Deus. Os barulhos e as atividades da civilização são fenômenos exteriores, erupções momentâneas na epiderme da raça humana. Atribuir-lhes valor confiável e então tentar trazer a religião para harmonizar-se com eles é cometer um tão grande erro moral, a ponto de abalar a imaginação, e um erro pelo qual com certeza pagaremos muito tempo depois de ter acabado em tragédia e eterna desgraça essa frenética extravagância que chamamos de civilização.
O que certos mestres da religião não entendem é que a verdadeira experiência cristã ocorre no espírito humano, longe e muito além da instável superfície das coisas. É apenas a superfície que responde ao barulho e à agitação. A parte profunda do homem encontra-se em silêncio desde sua criação, aguardando aquela palavra ressuscitadora que lhe dará o segundo nascimento. É porque esse espírito interior do homem está separado de Deus, que a vida toda está enguiçada; por isso a carne e a imaginação tomam conta e dirigem o pensamento, a vontade e as ações de cada homem e da raça da qual ele faz parte. É isso que cria a dança macabra, a dança da morte que conhecemos como sociedade e da qual, como homens naturais, fazemos parte.
O cristianismo popular imita a linguagem da teologia do Novo Testamento, mas aceita a opinião do mundo a seu respeito e cuidadosamente macaqueia os seus caminhos (com exceção de algumas poucas práticas más que até mesmo o mundo admite que são erradas). Aí Cristo é oferecido como um adicional, um “Amigo lá em Cima”, um Avalista para a hora em que o tumulto e o barulho acabarem e formos chamados do pátio de recreio e formos forçados a ir dormir.
É bom lembrarmos que os fatos grandes e essenciais não mudaram. Os homens continuam ainda o que eram e o Filho do Homem será para sempre quem e o que Ele era. Ele apela àquilo que é eterno em nós. O que é profundo apela ao que é profundo, e o chamado, se de alguma forma for ouvido, será ouvido por aquilo em nós que não é nem selvagem nem civilizado, nem velho nem jovem, nem ocidental nem oriental, mas simplesmente humano e criado à imagem de Deus.
É significativo que o Salmo onde ocorrem as palavras “aquietai-vos” esteja recheado de barulho e agitação. A terra treme, as águas rugem e se revoltam, as montanhas ameaçam cair no meio do mar, as nações se enfurecem, os reinos se abalam e se ouve o som da guerra no meio da terra. Daí se ouve uma voz vinda do meio do silêncio dizendo: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10).
Assim, hoje temos de escutar até que nosso ouvido interior ouça as palavras de Deus. Quando se ouve a Voz, não será como o barulho excitado do mundo agitado; será antes o chamado tranquilizador daquele de quem se diz: “Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça” (Is 42.2).
Essa Voz não se pode ouvir na rua, mas pode ser ouvida muito claramente no coração. E isso é o que importa, afinal.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).
Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Aplica-te ao estudo da Palavra.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).
Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)
Orar bem é estudar bem.
Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).
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Em tudo dai graças (1Ts 5.18).
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).
Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)
A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
Deus tudo vê
Não temais, pequenino rebanho.