Todas as coisas cooperam para o bem - John Newton

Todas as coisas cooperam para o bem

John Newton

Meu querido amigo:

Vejo a necessidade de ter minhas convicções, por assim dizer, e na medida do possível, na ponta da língua, para poder aplicá-las quando as situações aparecem a cada momento.

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Com toda a certeza, se minha capacidade fosse igual à minha disposição, eu removeria o seu tumor com uma palavra ou um toque — eu libertaria você instantaneamente e para sempre de todo desconforto e dor! Mas você está nas mãos de Um que pode fazer isso tudo e muito mais, e que ama você infinitamente mais do que eu posso — e contudo é da vontade dele permitir que você sofra. Qual é a lição óbvia nisso tudo? Certamente, que no presente momento, Ele — a quem toda a cadeia de acontecimentos, e as suas consequências, estão presentes num relance de olhos — vê que é melhor para você suportar esse tumor, do que estar livre dele! A meu ver, o aparecimento de um tumor (ou qualquer outro tipo de aflição que sobreviesse a você) sem uma causa, sem uma necessidade de ocorrer, sem que um benefício definido resulte dele — isso seria tão sem sentido como o aparecimento espontâneo de uma montanha ou de uma pirâmide no meio da rua principal da cidade. A promessa é clara, e literalmente verdadeira — todas as coisas, em toda parte e sem exceção, operam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus. Mas elas operam juntamente! Tanto os menores como os maiores eventos têm o seu lugar e utilidade — da mesma forma que diversas pedras no arco de uma ponte, onde nenhuma delas seria útil se estivesse sozinha — mas cada uma delas em seu lugar apropriado é necessária à estrutura e ao suporte do arco; ou, melhor, como o funcionamento de um relógio, onde, embora haja evidente subordinação das partes, e algumas partes têm comparativamente maior importância do que outras — contudo as menores partes têm seu lugar e função, e são tão importantes, que o inteiro desempenho da máquina seria danificado se faltasse uma só delas.

Algumas operações e mudanças da divina Providência têm influência mais visível, mais perceptível e determinante no desenrolar da nossa vida. Mas as mais simples ocorrências de cada dia são, no mínimo, pinos e engrenagens, ajustados, cronometrados, e adaptados com igual precisão, pela mão do mesmo grande Artista que planejou e executa o conjunto todo! Às vezes nos surpreendemos ao ver quanta coisa depende desses eventos menores — muito mais do que pensávamos. Aí admiramos a Sua habilidade, e exclamamos: “Tudo ele tem feito muito bem!” De fato, com respeito às Suas obras providenciais, como também com respeito a toda a Sua criação, Ele com muita justiça merece o título de Maximus in minimis [(latim) = notável (até) nas coisas pequenas].

Pensamentos como esses, quando consigo entendê-los, de certa forma me harmonizam a qualquer coisa que Ele concede a mim mesmo ou a meus amigos, e me convencem da veracidade desse versículo, que usa tanto a linguagem do amor quanto a da autoridade: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus!”

Compreendo os seus sentimentos nessa difícil provação, e oro e confio que o seu Pastor será o seu Médico. Ele dirigirá e abençoará o uso dos meios; lhe dará no tempo certo saúde e cura, e em todo o tempo lhe revelará abundância de paz.

As Suas promessas e o Seu poder são necessários para nossa sobrevivência, nas circunstâncias mais amenas que Ele nos tem reservado, e também são igualmente suficientes para as circunstâncias mais duras. Deixados por conta própria, estamos sempre em perigo, mas estamos sempre seguros à sombra das Suas asas.

Nem tempestades, nem ataques, nem cercos, nem pestes podem nos fazer mal, a não ser que nosso trabalho já tenha sido completado! E quando tivermos acabado nossa obra, e estivermos maduros para a glória — não tem importância qual será o meio que Ele usará para nos chamar ao lar, a Si mesmo!