Literatura para uma vida cristã sadia

Uma análise dos pecados secretos - Obadiah Sedgwick

Uma análise dos pecados secretos

Obadiah Sedgwick (1600-1658)

 

Quem há que possa discernir as próprias faltas?
Absolve-me das que me são ocultas. (Sl 19.12)

 

O desejo de toda pessoa santa é ser purificada, não apenas dos pecados conhecidos, mas também dos privados e secretos. Paulo exclamou: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). O quê, amado apóstolo! O que é que te segura? O que é que te perturba? Tu dizes que tua vida, antes da tua conversão, e depois da tua conversão, era irrepreensível (Fp 3.4-7). Tu te treinaste para teres uma consciência limpa de qualquer ofensa contra Deus e os homens (At 24.16). Mas tu clamas: “Desventurado homem que sou!” Tu lamentas: “Quem me livrará?” Verdadeiramente, meus irmãos, não era o pecado lá fora, mas dentro. Não era o pecado exterior, mas – esta vez – era o pecado interior. Não era Paulo pecando com outra pessoa, mas era Paulo pecando com o próprio Paulo. Era a “lei dos seus membros” guerreando secretamente dentro dele contra “a lei da sua mente” (Rm 7.23). Isso fez com que esse santo homem clamasse dessa forma, lamentasse assim. Assim como Rebeca se cansou da própria vida – não por causa de algum incômodo fora da sua casa, mas devido às perturbações domésticas: as filhas de Hete dentro da casa dela tornaram-lhe a vida desagradável (Gn 27.46) – assim o surgimento da depravação interior e secreta dentro de Paulo... foi a causa da sua perturbação. Isso o levou a exclamar e desejar: “Quem me livrará?”

Esse mesmo Paulo aconselhou que os efésios se despissem da anterior maneira de viver, vestindo o renovado espírito da mente, mostrando que há pecados que se escondem no íntimo tanto quanto existem pecados mais evidentes (Ef 4.22-23). Os cristãos verdadeiros precisam não apenas varrer o chão, mas também precisam lavar o aposento. O que pretendo dizer é o seguinte: não devemos acabar apenas com os pecados explícitos da nossa conduta; precisamos esforçar-nos também para sermos purificados dos pecados secretos e ocultos no espírito e na disposição interior...

 

Em que sentido o pecado é chamado de secreto? Para entender isso, é importante saber que o pecado tem uma dupla referência:

Ele pode referir-se a Deus: Dessa forma, não existe pecado nem forma de pecar que seja realmente secreta. Em Jeremias 23.24, o Senhor diz: “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? — diz o SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra?” É verdade que os homens ímpios imaginam insensatamente que podem esconder de Deus a si e a seus caminhos pecaminosos. “Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do SENHOR, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Is 29.15). Mas não há nuvem, nem cortina, nem momento de escuridão ou segredo entre os olhos de Deus e os caminhos do homem. “Porque os caminhos do homem estão perante os olhos do SENHOR, e ele considera todas as suas veredas” (Pv 5.21). Aqui ele fala principalmente dos caminhos do adúltero, que normalmente são tramados com o mais cuidadoso segredo; mas Deus vê todos esses caminhos. “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.13).

O pecado pode também referir-se ao homem: E, nesse sentido, pode-se dividir o pecado de duas formas: primeiro, manifesto; segundo, secreto.

Quando secreto, o pecado pode ser considerado de diferentes formas.

1. Com respeito à pessoa que peca: quando a pessoa não está consciente do seu próprio pecado. Ela pratica algo que realmente é pecado, mas não sabe que está cometendo um pecado. [Vemos isso] nos maus tratos que Paulo respirava contra a Igreja nos tempos da sua ignorância, coisas que ele fez sem saber que eram atos pecaminosos, ele achava que era impulsionado pelo zelo. Nesse sentido, todas as falhas morais ou mentais que se podem atribuir a alguém, pelo menos no que se refere à ignorância indomável [Termo teológico: ignorância que está além da capacidade de o indivíduo remover ou controlar, e pela qual não é considerado responsável.], podem ser chamadas de pecados secretos.

2. Com respeito à maneira de pecar: também nesse sentido os pecados podem ser chamados de secretos: (1) Quando são disfarçados e camuflados, embora se tornem públicos, mas não sob esse nome [de pecado], mas adornados com aspecto de virtude. (2) Quando são escondidos dos olhos do mundo. São como fogo na chaminé. Embora não se consiga vê-lo, está ali ardendo. Muita gente, como as pessoas no livro de Ezequiel, cometem abominações em segredo, quando ninguém está vendo. A pessoa é depravada e age com a maior impiedade. A diferença entre outro pecador e essa pessoa é a seguinte: essa pessoa é uma pecadora, mas o outro admite que é um pecador. É a mesma coisa que acontece com um livro aberto e um livro fechado. Aquele que está fechado possui o mesmo conteúdo, mas o conteúdo daquele que está aberto pode ser visto e lido. (3) Quando os pecados não são apenas escondidos da vista das pessoas, mas também de qualquer olho mortal. Os olhos carnais daquele que comete os pecados não os vê. Ele os vê com os olhos da consciência, mas não com os olhos de um senso natural. Mesmo as pessoas com quem ele se relaciona e que têm alta consideração para com a maneira com que ele se conduz não conseguem ver os raciocínios e ações pecaminosos em sua mente e coração. Irmãos, nem todas as ações pecaminosas são exteriores! Elas não são visíveis. Mas existem as mais perigosas ações dentro da alma, onde a corrupção se encontra como fonte e raiz. O coração do homem é um mundo de perversidade. O homem diz em seu coração aquilo que não se atreve a dizer com a língua, e seu pensamento fará aquilo que suas mãos não se atrevem a executar. O pecado, então, pode ser chamado de secreto quando é pecado e é praticado como pecado no coração, onde ninguém além de Deus e a consciência podem ver.

Eu imagino o pecado como uma vela numa claraboia, onde a luz se encontra primeiro lá dentro e depois rompe pelas janelas, ou como furúnculos e feridas ulceradas que têm crostas cheias de material pútrido. Eles aparecem primeiro debaixo da pele e depois rompem para fora. Assim acontece com o pecado. Ele é uma substância perversa, uma lepra maligna que se propaga por meio de influências e operações secretas na mente. Depois, ele irrompe e se atreve a se expor aos olhos de todos. Embora esse pecado não veja, talvez, a luz do dia, mesmo assim ele é como uma criança viva enterrada no ventre da mãe. Mas, da mesma forma que essa criança é uma pessoa, uma pessoa verdadeira oculta nessa estrutura oculta da natureza, assim o pecado é verdadeiramente pecado, apesar de nunca sair do ventre que o concebeu e lhe deu vida.

Mas que pecados eram esses de que Davi queria ser purificado? Isso é um segredo. Ele não menciona nenhum deles, porque seu desejo é ser liberto de todos eles... Mas, por que deveríamos nós desejar sermos purificados dos pecados secretos, tanto das ações secretas como dos impulsos secretos? Vou apresentar-lhes algumas razões para isso:

1. Porque, se não forem purificados, os pecados secretos se tornarão pecados públicos. Acontece com a alma a mesma coisa que acontece com o corpo: as doenças são primeiro geradas, depois se manifestam. E, se você não as reprime na raiz, logo as verá produzindo seus frutos. É como o fogo que domina primeiro o interior da casa, e, se você não o contém, ele encontrará caminho para chegar até o lado de fora. “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado” (Tg 1.15). Amados, lembrem-se disto: apesar de o território inicial do pecado ser o interior do coração, a propensão natural dele é manifestar-se em público. A criança no ventre não experimenta maiores espasmos para sair da sua moradia privada do que o pecado secretamente forjado de lançar-se em ação aberta e manifesta. Amnon adoeceu com as pecaminosas concepções da paixão incestuosa, e que agitação não houve até que ele, por fim, cometeu essa maldade! [2Sm 13.1-15] A pessoa que abrigar no íntimo qualquer pecado, contemplando-o e nele meditando com satisfação, verá esse seu pecado conduzi-lo aos atos externos. É o mínimo que o pecado faz. Ele, estranhamente, amadurece a inclinação natural do homem. Além disso, ele o prepara para qualquer tentação que combina com esse caminho. Satanás não precisa tentar muito aquele que já tentou a si mesmo. Aquele que cultiva o pecado no próprio coração descobrirá que mesmo uma situação simples fará com que ele se manifeste abertamente em sua vida. Trinta peças de prata vencerão um Judas cobiçoso, que já tinha o ouro dominando seu coração.

2. Os pecados secretos são mais capazes de nos enganar; por isso, livre-se deles. Além disso, existe engano em todo pecado: a pessoa é enganada pelo pecado toda vez que peca. Mas os pecados secretos são os que mais nos enganam! Eles têm maior capacidade de nos vencer:

Em primeiro lugar, porque não temos um discernimento claro e espiritual dos pecados interiores como temos dos pecados exteriores. Muitas vezes, nós os vemos como se não fossem pecados de forma alguma, ou então como se fossem menores e sem importância. Empunhar uma espada e cravá-la no coração de alguém – Ah! Isso é terrível assassinato! Desferir uma palavra mentirosa contra seu bom nome por meio de calúnias, isso também imaginamos que possa ser ruim. Mas matar alguém por meio de pensamento malicioso, com conspirações e desejos de vingança, isso não, isso dificilmente é considerado como algo repreensível ou digno de culpa; no máximo, achamos que é algo desculpável. Amados, é da natureza do pecado manifestar-se na pessoa sem tumulto nem controvérsia; e não há pecado que se manifeste com tanta facilidade como aqueles que menos consideramos como pecados. E temos sempre a propensão de achar que os pecados secretos são pecados incomuns.

Em segundo lugar, porque a maioria dos pecadores se afasta do pecado por terem receio do que os outros vão dizer. Eles não vivem na prática desses pecados e não os cometem de forma pública pelo fato de não gostarem de passar vergonha e terem receio de serem punidos. Mas isso não se aplica aos pecados secretos, que não são vistos nem pela lei nem pelo olho humano. O pecado secreto – pelo fato de ser algo invisível – escapa do refreamento exterior da observação, dos comentários e dos julgamentos dos homens. Ele diz respeito principalmente ao que diz a consciência, que, talvez, seja ignorante ou esteja inativa. E, mesmo se ela falar, não é levada em conta. Agora preste atenção: de todos os pecados, preste mais atenção naqueles que mais facilmente enganam você. Esses são os que a pessoa mais comete, os que mais a influenciam e que continua cometendo por mais tempo. Portanto, já que os pecados secretos se manifestam dessa forma, não será necessário esforçar-se para ser purificado deles?

3. A força do pecado é interior; por isso, esforce-se para ser purificado dos pecados secretos. Se alguém está com uma febre tão violenta que sua língua queima e sua carne está quase assando de tanto calor, é preciso encontrar a origem interna dessa desordem na saúde. Assim acontece também com o pecado. Embora sejam muito ruins as ações exteriores, a força delas encontra-se no interior da alma.

4. A principal atenção dos olhos de Deus se dirige à estrutura interior e secreta da alma: por isso, esforce-se para ser purificado dos pecados secretos. "Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido" (Sl 66.18). "Eis que te comprazes na verdade no íntimo" (Sl 51.6). Por essa razão, com frequência se diz nas Escrituras que Ele "sonda a mente e o coração", o que revela que Ele observa especialmente a disposição interior. É verdade que Deus Se opõe aos pecados públicos. Por quê? Porque Ele não quer que ninguém seja profano; e Ele Se opõe de forma especial contra os pecados secretos. Por quê? Porque Ele não suporta que ninguém seja hipócrita. O ser humano é para Deus aquilo que é o seu interior. Se você age com impiedade no coração, Deus vai destruí-lo. Disfarce suas ações exteriores com toda sorte de expressões piedosas; contudo, se você consegue ajustar com isso alguma forma de pecado, você é um tremendo hipócrita. O Senhor vê sua falsidade e desonestidade e Ele vai livrar-Se de você.

Há muita gente que tem prazer nos pecados secretos. O apóstolo Paulo reclamou desse tipo na sua época: "Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha" (Ef 5.12). Ele falou dos que viviam secretamente em fornicação e impureza. Irmãos, quantos não há que se vestem com os secretos pensamentos da detestável malícia, e mesmo agem dessa forma, como se Deus não os estivesse vendo, nem houvesse uma consciência os vigiando, nem um Dia de Juízo em que serão denunciados! Oh! como vocês devem ser infinitamente detestáveis aos olhos desse Deus santo, vocês que se atrevem a provocá-lo em público, e ainda se atrevem a provocá-lo dessa forma em secreto. Vocês são como uma mulher indecente que fora de casa finge possuir maravilhosos sentimentos para com seu marido, mas em casa, diante dos olhos de seu marido, viola o pacto de seu Deus. Assim também vocês fingem amar a Deus na presença dos outros, mas em segredo atrevem-se a pecar diante da Sua face! Ele vê vocês, e a consciência de vocês sabe muito bem disso.

Existem, pelo menos, três pecados horríveis que você comete de uma vez só: Em primeiro lugar, o próprio pecado que você tenta esconder. Talvez seja um pecado do pior tipo. Sim, preste bem atenção: os pecados mais deploráveis são normalmente os cometidos em secreto, como os adultérios de Sodoma, e os terríveis tipos de corrupção, assassinatos e traições, etc.

Em segundo lugar, a hipocrisia, que é um véu para seu pecado, uma cobertura santa para um coração e uma prática não santos. [Isso] torna o pecador tão pior aos olhos de Deus, pelo fato de ele não apenas pecar contra Deus, mas deturpar, por assim dizer, algo de Deus para esconder e atenuar sua rebelião contra Ele.

Um terceiro pecado é o ateísmo. Embora não exista o ateísmo genuíno, existe o ateísmo na prática. [É como] se Deus não fosse Deus no secreto, unicamente em público; que Ele pudesse enxergar apenas no claro e não no escuro; que Seus olhos fossem apenas como os do próprio homem, quando na verdade Ele é um olho absoluto e sua Luz não tem treva nenhuma.

Circunstâncias exteriores podem predispor a pecados secretos. Amados, há uma armadilha contra nós em quase toda e qualquer companhia humana. Nossa natureza é tão vil, que uma faísca de fogo facilmente pode inflamar uma caixa de material inflamável, uma palavra proferida, muitas vezes, acende um mundo de emoções, de malícia, de vingança dentro de nós! Sim, um olhar para o lugar errado gera em nós um secreto desprezo e descontentamento! Sim, um olhar pode inflamar o coração com lascívia. Não precisamos, então (juntando todas essas coisas), examinar nossa disposição interior para ver como estamos cuidando e como estamos combatendo os pecados secretos?

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Obadiah Sedgwick (1600-1658): Ministro presbiteriano e membro da Assembleia de Westminster. Nasceu em Marlborough, Wiltshire, Inglaterra.

 

 

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