Literatura para uma vida cristã sadia

Você está vivo ou está morto? - J. C. Ryle

Você está vivo ou está morto?

J. C. Ryle

 

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”
(Ef 2.1).

A pergunta que serve de título a este texto merece cuidadosa reflexão. Convido cada leitor  a considerá-la com cuidado e pensar bem nela. Examine o seu próprio coração e não deixe este livro de lado sem um sério autoexame. Você está entre os vivos ou entre os mortos?

Ouça-me, à medida que eu tento ajudá-lo a encontrar uma resposta. Conceda-me a sua atenção, à medida que explico o assunto e lhe mostro o que Deus diz a respeito dele nas Escrituras. Se eu lhe disser coisas difíceis de escutar, não é porque não o amo. Escrevo da forma que escrevo porque desejo que você seja salvo. Aquele que mais lhe fala a verdade é o seu melhor amigo.

 

I. Em primeiro lugar, então, vou mostrar a você o que todos nós somos por natureza. Estamos todos espiritualmente mortos!

“Morto” é uma palavra forte — mas não fui eu quem a inventou. Eu não escolhi essa palavra. O Espírito Santo dirigiu Paulo a usá-la a respeito dos efésios: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”. O Senhor Jesus Cristo usou essa palavra na parábola do filho pródigo: “porque este meu filho estava morto e reviveu” (Lc 15.24,32). Você a encontrará também na Primeira Epístola a Timóteo: “entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta (1Tm 5.6). Será que um homem mortal é mais sábio do que aquilo que está escrito nas Escrituras? Não tenho eu de ser cuidadoso para falar exatamente aquilo que encontro na Bíblia, nada mais, nada menos?

A palavra “morto” traz uma ideia terrível, uma ideia que o homem não quer aceitar. Ele não gosta de admitir toda a extensão da enfermidade da sua alma — ele fecha os olhos ao verdadeiro significado do perigo que corre. Muita gente admitirá que digamos que, por natureza, a maioria das pessoas “não é exatamente o que deveria ser — são relaxadas — são inconstantes — são levianas — são violentas — não são suficientemente sérias”. Mas mortas? Ah, não! Não devemos dizer isso. Afirmar isso é ir longe demais. Essa ideia é uma pedra de tropeço, uma rocha de escândalo.

O bispo Usher, num sermão pregado em Oxford, em 1650, disse o seguinte: “Esta é a razão por que não somos melhores, porque a nossa enfermidade não é perfeitamente conhecida; esta é a razão por que não somos melhores, porque não sabemos o quanto somos perversos”.

Mas aquilo de que nós gostamos, em matéria de religião, tem muito pouca importância. A única questão é esta: O que é que está escrito? O que diz o Senhor? Os pensamentos de Deus não são os pensamentos do homem e as palavras de Deus não são as palavras dos homens. O que Deus diz a respeito de toda pessoa viva que não é realmente, inteiramente, genuinamente, decididamente cristã — seja ela alta ou baixa, rica ou pobre, velha ou jovem — é que essa pessoa está espiritualmente morta.

Nesse assunto, como em qualquer outro, as palavras de Deus estão certas. Nada poderia ser dito de forma mais correta; nada poderia ser dito com mais exatidão ou com mais fidelidade; nada poderia ser dito com mais verdade. Pare um pouco e permita-me chegar a uma conclusão com você.

O que você teria dito, se visse José chorando junto ao seu pai Jacó? “Então, José se lançou sobre o rosto de seu pai, e chorou sobre ele, e o beijou” (Gn 50.1). Mas não houve correspondência nem resposta à afeição de José. Nada naquele rosto envelhecido se mexia; ele permaneceu silencioso e quieto. Sem dúvida, você deve ter adivinhado a razão: Jacó estava morto.

O que você teria dito, se tivesse ouvido o levita falando com a mulher dele, quando a encontrou caída na porta da casa, em Gibeá? “Levanta-te” — ele disse — “e vamos; porém ela não respondeu” (Jz 19.28). As palavras dele caíram no vazio. Ali estava ela, caída, imóvel, rígida e fria. Você sabe a razão: sim, ela estava morta.

O que você teria pensado, se tivesse visto o amalequita tirando de Saul os seus ornamentos reais no monte Gilboa? Ele tirou dele “a coroa que trazia na cabeça e o bracelete” (2Sm 1.10). Não houve resistência. Nem sequer um músculo da orgulhosa face do rei se moveu — nem um dedo se levantou para impedir o amalequita. E por quê isso? Saul estava morto.

O que você teria pensado se tivesse encontrado o filho da viúva, na porta de Naim, deitado num caixão, coberto de uma mortalha, seguido pela mãe aos prantos, sendo conduzido lentamente para a tumba (Lc 7.12)? Sem dúvida, tudo seria claro para você. Não haveria necessidade de explicações. O jovem estava morto.

Ora, eu lhe afirmo que essa é a exata condição de cada ser humano, por natureza, com respeito à sua alma. Eu lhe afirmo que, em assuntos espirituais, esse é o exato estado da vasta maioria das pessoas ao nosso redor. Deus os chama constantemente — com misericórdias dispensadas a eles, por meio de aflições, pelos ministros do Evangelho, pela Sua Palavra — mas eles não ouvem a Sua voz. O Senhor Jesus Cristo lamenta sobre eles, suplica, manda-lhes graciosos convites, bate à porta do coração deles — mas eles não consideram nada disso. A coroa e a glória deles, aquela preciosa joia, a alma imortal deles, está sendo capturada, roubada e levada — e eles estão completamente indiferentes. O diabo os está conduzindo, dia após dia, pela estrada larga que conduz à destruição — e eles permitem que ele os faça cativos sem nenhuma resistência. E isso acontece em todos os lugares à nossa volta, em todas as classes sociais, em todos os lugares deste país. Você sabe disso em sua própria consciência à medida que lê estas palavras — você precisa estar ciente disso. Não há como negá-lo. E eu torno a perguntar: O que poderia ser mais verdadeiro do que aquilo que Deus diz — nós estamos todos, por natureza, espiritualmente mortos? 

Sim! Quando o coração de um homem está frio e indiferente quanto à religião — quando as suas mãos não se envolvem para fazer o trabalho de Deus — quando os seus pés não trilham os caminhos de Deus — quando a sua língua raramente ou nunca é usada em oração e louvor — quando os seus ouvidos são surdos à voz de Cristo no Evangelho — quando os seus olhos são cegos para a beleza do reino dos céus — quando a sua mente está cheia do mundo, e não tem lugar para as coisas espirituais — quando essas são as características de um homem, a palavra da Bíblia é a palavra correta para usar a respeito dele — e essa palavra é “morto”.

Talvez não gostemos disso. Podemos talvez fechar os olhos tanto para os fatos encontrados no mundo, como para os textos da Palavra. Mas a verdade de Deus precisa ser dita, e silenciá-la causa indiscutível dano. A verdade tem de ser dita, não importa quão condenatória ela possa ser. Enquanto o homem não servir a Deus com corpo, alma e espírito, ele não está vivo de fato . Enquanto ele puser as primeiras coisas por último e as últimas em primeiro lugar, enquanto enterra o seu talento como um servo inútil e não gera honra ao Senhor, aos olhos de Deus ele está morto. Ele não está preenchendo o lugar na criação para o qual veio à existência; ele não está usando as suas capacidades e faculdades como Deus quer que sejam usadas. São a mais pura verdade as palavras do poeta:

Só está vivo quem vive para Deus,

Mortos estão todos os demais

Essa é a verdadeira explicação para o pecado não sentido, para os sermões não cridos — os bons conselhos não obedecidos — o Evangelho não seguido — o mundo não abandonado — a cruz não carregada — a vontade própria não mortificada — os maus hábitos não postos de lado — a Bíblia raramente lida — os joelhos nunca dobrados em oração. Por que é isso que se vê por todo lado? A resposta é simples: os homens estão mortos!

Essa é a verdadeira explicação para o exército de desculpas, que tantos dão à uma só voz. Alguns não têm estudo, outros não têm tempo. Alguns estão aflitos com seus negócios, fazendo dinheiro; outros, com a pobreza. Alguns têm dificuldades na própria família, e alguns, com a saúde. Alguns têm obstáculos estranhos no seu chamado; outros não conseguem entendê-lo. Outros ainda têm esquisitas desvantagens em casa, e esperam vê-las removidas. Mas Deus tem uma palavra mais curta na Bíblia, que descreve toda essa gente ao mesmo tempo. Ele diz: eles estão mortos. Se o coração dessas pessoas recebesse vida espiritual, todas as suas desculpas sumiriam.

Essa é a verdadeira explicação para muita coisa que oprime o coração de um ministro fiel. Há muitos à volta dele que jamais entram num lugar de adoração. Muitos participam tão irregularmente, que fica clara a pouca importância que dão ao assunto. Muitos participam uma só vez no domingo, quando poderiam facilmente participar duas vezes. Muitos nunca participam da mesa do Senhor e jamais participam de uma reunião durante semana. E por que tudo isso? Muitas vezes, por vezes demais, só se pode dizer uma coisa a respeito dessa gente — Eles estão mortos.

Veja, então, como é que toda pessoa que se diz cristã deve examinar a si mesma e testar a sua própria situação. Não é apenas nos cemitérios das igrejas que encontraremos os mortos; há muitos deles dentro das nossas igrejas e perto dos púlpitos — muitos nos púlpitos das igrejas, pregando e muitos nos bancos das igrejas, ouvindo. A terra se encontra como o vale da visão de Ezequiel: cheio de ossos, “mui numerosos e sequíssimos” (Ez 37.2). Encontramos almas mortas em todas as nossas comunidades e almas mortas em todas as nossas ruas. Dificilmente há uma família em que não há algum morto. Oh, vamos todos nós verificar a nossa própria família! Vamos todos nos examinar. Estamos vivos ou estamos mortos?

Veja, também, quão triste é a condição de todos os que vivem por aí sem nenhuma mudança espiritual, cujos corações permanecem da mesma forma que eram no dia em que nasceram. Há uma enorme discordância entre eles e o céu. Eles ainda não passaram “da morte para a vida” (1Jo 3.14). Oh, se eles pudessem ver e saber o perigo que correm! Lamentavelmente, uma das terríveis características da morte espiritual é que, à semelhança da morte natural — ela não é sentida! Depositamos os nossos queridos com ternura e gentileza num caixão estreito, mas eles não sentem mais nada do que fazemos com eles. “Os mortos” — disse o sábio — “não sabem coisa nenhuma” (Ec 9.5). E é exatamente assim com as almas mortas.

Essa, também, é a razão por que os ministros precisam se preocupar com as suas congregações. Nós percebemos que o tempo é curto e a vida, incerta. Nós estamos cientes de que a morte espiritual dá com certeza na morte eterna. Nosso temor é que nossos ouvintes morram em seus pecados, sem estarem preparados, sem serem regenerados, impenitentes, não transformados. Oh, não se impressionem se muitas vezes nós falamos energicamente e argumentamos com vocês calorosamente! Não nos atrevemos a chamá-los com nomes bajuladores, diverti-los com tolices, dizer-lhes coisas lisonjeiras e dizer: “Paz, paz”, quando de fato a vida e a morte estão em jogo e nada mais nada menos que isso. A praga está no meio de vocês. Nós nos sentimos como que colocados entre os vivos e os mortos. Nós temos de usar (e vamos usar) de “muita ousadia no falar”. “Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?” (2Co 3.12; 1Co 14.8).

 

II. Em segundo lugar, vou dizer-lhe o que uma pessoa precisa, se quiser ser salva. Ela precisa ser ressuscitada, precisa receber vida espiritual

De tudo o que se pode possuir, a vida é a coisa mais importante. A mudança da morte para a vida é a maior mudança que pode ocorrer. E nenhuma mudança menor que essa jamais preparará a alma do homem para o céu. Sim! Não é pôr um pequeno remendo ou fazer uma pequena mudança — uma pequena limpeza, uma purificação — uma nova pintura, uma maquiagem — não é passar uma demão de cal ou verniz — não é virar uma página e adotar uma nova aparência — não é nada disso que é necessário. É trazer para dentro algo completamente novo — a implantação dentro de nós de uma nova natureza, um novo ser — um novo princípio — uma nova mente. Somente isso e nada menos que isso será adequado para as necessidades da alma humana. Nós não precisamos apenas de uma nova pele — precisamos é de um novo coração.

“Não é uma pequena reforma que salvará o homem, não; nem toda a moralidade (ética) do mundo, nem mesmo todas as graças do Espírito de Deus, nem a mudança exterior da vida; elas não salvarão, a não ser que nós sejamos ressuscitados e seja criada em nós uma nova vida” — Sermões do bispo Usher.

Recortar um bloco de mármore da pedreira e esculpi-lo, transformando-o numa nobre estátua; transformar um descampado deserto num jardim florido; derreter o ferro bruto e forjá-lo em molas de relógio — tudo isso são mudanças imensas, consideráveis. Contudo todos elas são inferiores à mudança de que todo filho de Adão precisa, porque todas elas são meramente a mesma coisa numa forma nova e a mesma substância com aspecto diferente. Mas o homem precisa de um enxerto de algo que ele não possuía anteriormente. Ele precisa de uma mudança tão grande como a ressurreição de entre os mortos — ele precisa tornar-se uma nova criatura. As coisas velhas precisam passar e todas as coisas precisam ser tornadas novas. Ele precisa “nascer de novo, nascer do alto, nascer de Deus”. Da mesma forma que o nascimento natural é necessário, essencial para a vida do corpo, assim o nascimento espiritual é necessário, essencial à vida da alma (2Co 5.17; Jo 3.3).

Eu sei muito bem que esta é uma palavra dura. Eu sei que os filhos deste mundo não gostam de ouvir que eles têm de nascer de novo. Isso lhes perturba a consciência — faz com que se sintam mais longe do céu do que estão dispostos a admitir. Isso lhes parece uma porta estreita, diante da qual ainda não se curvaram para entrar e eles preferem aumentar essa porta ou escalar por algum outro lugar. Mas eu não me atrevo a fazer concessões nesse assunto. Não quero nutrir uma ilusão e dizer às pessoas que precisam arrepender-se apenas um pouquinho e ativar um dom que elas têm dentro de si a fim de se tornarem verdadeiros cristãos. Eu não me atrevo a usar nenhuma outra linguagem que seja diferente daquela usada na Bíblia; e eu repito, nas palavras escritas para nosso ensino: “Todos nós temos de nascer de novo — nós estamos, por natureza, mortos e precisamos ser ressuscitados”.

Se nós víssemos Manassés, rei de Judá, num certo momento enchendo Jerusalém de ídolos e matando os próprios filhos em honra dos falsos deuses — e no outro momento purificando o templo, eliminando a idolatria e vivendo uma vida piedosa; se víssemos Zaqueu, o publicano de Jericó, num dado momento enganando, roubando, cobiçando — e noutro momento seguindo a Cristo e dando a metade dos seus bens aos pobres; se víssemos os servos da casa de Nero, num momento agindo de acordo com os caminhos depravados do senhor deles — e no outro momento em plena harmonia com os sentimentos e pensamentos do apóstolo Paulo; se víssemos o antigo pai da igreja, Agostinho, num certo momento vivendo em fornicação — e no outro andando intimamente com Deus; se víssemos o reformador Latimer, numa hora pregando sinceramente contra a verdade como ela é em Jesus — e na outra gastando-se e sendo gasto até à morte na causa de Cristo; se víssemos os neozelandeses ou os pagãos hindus, sedentos de sangue, imorais, afundados em abomináveis superstições — e no momento seguinte santos, puros e crentes cristãos; se víssemos essas maravilhosas mudanças, eu perguntaria a qualquer cristão sensato: o que é que diríamos disso tudo? Será que nos contentaríamos em chamar isso tudo de meras reformas ou mudanças? Será que nos contentaríamos em dizer que Agostinho “corrigiu os seus caminhos” e que Latimer “virou uma nova página”? De fato, se não disséssemos nada mais do que isso, as próprias pedras clamariam. Eu digo que em todos esses casos ocorreu nada menos do que um novo nascimento, uma ressurreição da natureza humana, a restauração da vida aos mortos. Essas são as palavras apropriadas para usar nesses casos. Qualquer outra linguagem será fraca, pobre, desprezível, não-bíblica e aquém da verdade.

Eu não hesito em dizer que, para sermos salvos, todos nós precisamos desse mesmo tipo de mudança. A diferença entre nós e qualquer um dos que acabei de mencionar é muito menor do que parece ser. Remova a crosta exterior, e você encontrará a mesma natureza lá dentro, em nós e neles — uma natureza perversa, que precisa de uma completa transformação. A face da terra é muito diferente nos diferentes climas — mas o coração da terra, eu acredito, é igual em todo lugar. Vá aonde você quiser, de um canto a outro, você encontrará sempre o granito ou outras rochas primitivas debaixo dos seus pés se você apenas cavar fundo o suficiente. E é exatamente assim com o coração dos homens. Os costumes deles e a cor da sua pele, seus caminhos e suas leis, talvez sejam todos completamente diferentes; mas o homem interior é sempre o mesmo. Os corações deles são todos iguais lá no fundo —  todos empedrados, todos duros e maus, todos necessitados de serem completamente renovados. O inglês, o africano e o neozelandês [e o brasileiro - N. do Tradutor] encontram-se no mesmo nível nesse assunto. Todos eles estão mortos por natureza, e todos eles precisam ser vivificados, ressuscitados. Todos eles são filhos do mesmo pai, Adão, que caiu em pecado, e todos eles precisam “nascer de novo” e serem feitos filhos de Deus.

Não importa em que parte do globo vivemos, nossos olhos precisam ser abertos — naturalmente, não vemos nunca a nossa pecaminosidade, culpa e perigo. Não importa a nação a que pertencemos, nosso entendimento precisa ser iluminado — por natureza, sabemos pouco ou nada do plano da salvação — como os construtores da torre de Babel, pensamos alcançar o céu do nosso próprio jeito. Não importa a igreja a que pertencemos, nossa vontade precisa ser inclinada na direção correta — naturalmente, jamais escolheríamos as coisas que são para a nossa paz; nós nunca jamais chegaríamos a Cristo. Qualquer que seja nossa posição social, nossas afeições precisam converter-se para as coisas lá do alto — a indiferença precisa tornar-se em sinceridade — o mundanismo precisa tornar-se em santidade — a incredulidade precisa mudar-se em fé. O domínio de Satanás precisa ser eliminado dentro de nós e o reino de Deus precisa ser estabelecido ali. O egoísmo precisa ser crucificado e Cristo tem de reinar. Se essas coisas não acontecerem, estamos mortos como pedras. Somente quando essas coisas começam a acontecer é que estamos espiritualmente vivos e nem um momento antes que isso.

“O entendimento humano está tão entenebrecido que o homem não consegue ver nada de Deus no próprio Deus, não vê santidade na própria santidade, nada de bom ele vê no próprio bem, não vê nada de mal no mal, nem consegue ver nada pecaminoso no pecado. Não, ele está tão obscurecido, que se congratula por ver o bem no mal e o mal no bem; por ver alegria no pecado e tormento na santidade” — Berridge.

Atrevo-me a dizer que isso soa como bobagem para alguns. Mas há muitos que poderiam levantar-se e confirmar que isso é verdade. Muitos poderiam nos dizer que sabem isso por experiência e que de fato sentem-se uma nova pessoa, um novo homem. Eles amam agora as coisas que outrora odiavam e odeiam as coisas que antigamente amavam. Eles têm novos hábitos, novas companhias, novas tristezas, novas alegrias, novos anseios, novos prazeres, novas esperanças e novos temores. Em suma, a sua inclinação toda e a tendência da vida deles foi transformada. Pergunte aos que convivem mais proximamente deles, aos seus amigos, e eles darão testemunho disso. Quer gostem disso ou não, eles serão obrigados a confessar que essa pessoa não é mais a mesma.

“Quão maravilhosamente a alma nascida de novo difere daquilo que era antes. Essa pessoa vive uma vida nova, ela anda num caminho novo, ela orienta o seu caminho por uma bússola nova e navega em direção a uma costa nova. Os seus princípios são novos, seu padrão é novo, suas práticas são novas, seus projetos são novos, tudo é novo. Ela se desembaraça de tudo que anteriormente teceu e se aplica agora inteiramente a uma outra obra” — George Swinnocke, 1660.

Muita gente pode lhe dizer que houve tempo em que não pensavam em si mesmos como grandes pecadores. No máximo, julgavam que não eram piores do que os outros. Agora, porém, dizem juntamente com o apóstolo Paulo, que se sentem “o principal dos pecadores” (1Tm 1.15).

“Eu não consigo orar, mas consigo pecar; eu não consigo ouvir a pregação de um sermão, mas consigo pecar; eu não consigo dar esmolas ou participar dos sacramentos, mas consigo pecar; não, eu não consigo nem mesmo confessar meus pecados, mas as minhas confissões são uma intensificação dos meus pecados. Eu preciso me arrepender do meu arrependimento, minhas lágrimas precisam ser lavadas e a própria lavagem das minhas lágrimas precisa sempre de novo da lavagem do sangue do meu Redentor” — Beveridge.

“Ai de mim, que alguém pense haver alguma coisa em mim! Ele (Deus) é minha testemunha, diante de Quem eu sou como cristal, que os demônios que habitam secretamente a minha casa, que tão frequentemente me fazem companhia, que a corrupção que eu encontro dentro de mim, fazem com que eu navegue com velas arriadas (humildemente)” — Cartas de Rutherford, 1637.

Antigamente, ele não levava em consideração que tinha um coração perverso. Ele talvez tivesse lá as suas faltas e se conduzia mal por causa de más companhias e tentações — mas ‘no fundo, ele tinha um bom coração’. Agora ele lhe dirá que não conhece coração tão perverso como o seu próprio. Ele o considera enganoso “mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr 17.6).

Antigamente, ele não pensava ser muito difícil ir para o céu. Ele pensava que só precisava arrepender-se, fazer umas poucas orações, fazer o que pudesse ser feito e Cristo arrumaria o que faltasse. Agora ele crê que o caminho é estreito e que são poucos que o encontram. Ele está convencido que jamais poderia ter produzido a sua própria paz com Deus. Ele está persuadido que nada senão o sangue de Cristo pôde purificar os seus pecados. A sua única esperança é ser “justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.28).

Antigamente, ele não conseguia ver beleza nem méritos no Senhor Jesus Cristo. Ele não conseguia entender alguns ministros que falavam tanto a respeito dEle. Agora ele dirá a você que Ele é a pérola de grande valor, o maioral entre dez milhares, o seu Redentor, o seu Advogado, o seu Sacerdote, o seu Rei, o seu Médico, o seu Pastor, o seu Amigo, o seu Tudo.

Antigamente, ele pensava levianamente a respeito do pecado. Ele não conseguia ver a necessidade de ser tão minucioso quanto ao pecado. Ele não conseguia pensar que as palavras e os pensamentos e as ações das pessoas fossem tão importantes e que exigem tanta vigilância. Agora ele lhe dirá que o pecado é a coisa abominável que ele odeia, a tristeza e o fardo da vida dele. Ele anela ser mais santo. Ele se identifica totalmente com o desejo de Whitefield: “Eu quero ir para onde eu mesmo nunca mais vou pecar, nem vou ver ninguém mais pecando”.

“Estou cansado de tudo o que faço e fico atônito que o Redentor ainda continue me usando e abençoando. É evidente que sou mais tolo do que qualquer homem — ninguém recebe tanto e faz tão pouco” — Cartas de Whitefield.

Antigamente, ele não sentia prazer nos meios da graça. Ele negligenciava a Bíblia. As suas orações, se havia alguma, eram mero formalismo. O domingo era enfadonho. Os sermões eram cansativos e com frequência o faziam dormir. Agora tudo mudou. Essas coisas são o alimento, o conforto, o prazer da sua alma.

Antigamente, ele não gostava dos cristãos que levavam a vida cristã a sério. Ele os marginalizava como melancólicos, deprimidos, gente fraca. Agora eles são os mais excelentes da terra, em quem ele tem todo o seu prazer. Ele nunca está tão alegre como quando está na companhia deles. Ele sente que, se todos os homens e mulheres fossem santos, seria o céu sobre a terra.

Antigamente, ele se importava somente com este mundo, os seus prazeres, os seus negócios, suas ocupações, suas recompensas. Agora ele o contempla como um lugar vazio, insatisfatório; uma hospedaria — um alojamento — uma escola de treinamento para a vida por vir. O seu tesouro está no céu. O seu lar está além do túmulo.

Eu pergunto uma vez mais: o que é isso tudo senão uma nova vida? Uma mudança dessas como eu descrevi acima não é visão nem imaginação. Ela é uma coisa real e verdadeira, que não são poucos que têm experimentado ou sentido neste mundo. Não é fruto da minha imaginação. É algo verdadeiro que alguns de nós podemos encontrar bem perto da porta da nossa própria casa. Mas onde quer que uma mudança dessas aconteça, ali você verá aquilo de que estou falando agora — você vê o morto ressuscitado, uma nova criatura, uma alma nascida de novo. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17).

Queira Deus que mudanças como essas sejam mais frequentes! Queira Deus que não haja tantas multidões a respeito de quem temos de dizer até chorando, que não conhecem absolutamente nada desse assunto. Mas, quer seja comum ou não, uma coisa eu digo claramente: essa é a espécie de mudança de que todos nós precisamos. Eu não digo que todos precisam ter exatamente a mesma experiência. Admito que a mudança é diferente, em grau, extensão e intensidade em diferentes pessoas. A graça pode ser fraca e ainda ser verdadeira — a vida pode ser débil e contudo real. Mas eu afirmo com toda confiança que temos todos de passar por algo dessa espécie se quisermos ser salvos. Até que ocorra esse tipo de mudança, não há vida em nós de forma alguma. Poderemos ser ativos membros de igreja — mas seremos cristãos espiritualmente mortos.

“Se continuamos a mesma velha pessoa, sem nenhuma transformação, a mesma pessoa que veio a este mundo, sem mortificação de nossas corrupções, sem adição da graça e da santificação, é certo que teremos de procurar um outro Pai; ainda não somos filhos de Deus” — Hall, 1652.

“Se você ainda não provou a regeneração, creia-me, você não poderá jamais ver o céu. Não há esperança do céu antes disso — até que você nasça de novo” — Sermões do bispo Usher.

Considere isso — cada homem ou mulher que lê este livro — considere isso em sua própria consciência e leve isso a sério. Mais cedo ou mais tarde, entre o berço e o túmulo, todos os que desejam ser salvos precisam ser vivificados, ressuscitados. As palavras que o bom e velho Berridge tem gravadas em sua lápide são fiéis e verdadeiras: “Leitor! Você nasceu de novo? Lembre-se: não há salvação sem novo nascimento!”

Veja agora como é grande o abismo que existe entre o cristão nominal e formal — e o cristão de fato e de verdade. Não é a diferença de um ser um pouco melhor e o outro um pouco pior que o seu vizinho — é a diferença entre a vida e a morte. A menor folhinha de grama que cresce no alto da montanha é mais nobre do que a mais bela flor artificial jamais feita; pois ela tem aquilo que nenhuma ciência humana consegue transmitir — ela tem vida. A mais esplêndida estátua de mármore da Grécia ou da Itália não é nada ao lado da pobre criança enferma que engatinha no chão de uma cabana; pois apesar de toda a sua beleza essa estátua está morta. E o mais débil membro da família de Cristo é muito superior e mais precioso aos olhos de Deus do que o homem mais talentoso do mundo. Um vive para Deus e viverá para sempre — o outro, com todo o seu intelecto, continua morto em seus pecados.

Oh, você que passou da morte para a vida, você tem de fato razão para ser grato! Lembre-se do que você já foi por natureza — morto. Pense no que você agora é pela graça — vivo. Contemple os ossos secos retirados dos túmulos. Assim era você; e quem fez você diferente? Vá e prostre-se humildemente aos pés do seu Deus. Bendiga-O com frequência: “Quem sou eu, Senhor, que me trouxeste até aqui? Por que eu? Por que foste misericordioso para comigo?”

 

III. Em terceiro lugar, vou dizer-lhe qual é a única maneira que essa ressurreição pode ser produzida — quais são os meios pelos quais uma alma morta pode ser vivificada

É claro, se eu não lhe contasse isso, seria crueldade eu ter escrito o que escrevi acima. É claro que isso seria conduzir você a um deserto e então deixá-lo ali sem pão nem água. Seria como conduzir você até o mar Vermelho e então pedir que você o atravessasse. Seria fazer como Faraó, que exigiu a fabricação de tijolos sem fornecer a palha. Seria como amarrar seus pés e mãos e então querer que você combatesse o bom combate e corresse para alcançar o prêmio. Eu não farei isso e não vou largar você até haver indicado a pequena porta para a qual você precisa correr. Com a ajuda de Deus, quero apresentar-lhe a completa provisão que foi feita em favor de nossas almas mortas. Ouça-me um pouco mais e vou apresentar-lhe o que está escrito na Palavra da verdade.

Uma coisa é muito clara — nós não podemos operar essa tremenda mudança em nós mesmos. Isso está fora do nosso alcance. Podemos, talvez, mudar nossos pecados — mas não podemos mudar nosso coração. Talvez possamos adotar um novo caminho — mas não uma nova natureza. Talvez consigamos fazer importantes reformas e alterações. Talvez abandonemos muitos maus hábitos exteriores e comecemos a cumprir muitos deveres exteriores. Mas não podemos criar um novo princípio, uma nova essência dentro de nós. Não podemos produzir alguma coisa a partir do nada. O etíope não pode mudar a própria pele, nem o leopardo as suas manchas. Nem nós podemos pôr vida em nossa própria alma (Jr 13.23).

“Não há uma só boa obra que o homem natural consiga fazer. Se lhe fosse dito: ‘Pense um só pensamento bom que seja e em troca você irá para o céu’, ele não conseguiria fazê-lo. Enquanto Deus não o levantar da fossa do pecado, assim como Ele fez com Lázaro da sepultura, ele não pode fazer nada que seja agradável a Deus. Ele talvez faça as obras de um homem eticamente correto — mas fazer as obras de um homem ressuscitado e iluminado, isso está além da sua capacidade” — Sermões do bispo Usher.

“A natureza humana é tão incapaz de expulsar a si mesma, como Satanás é incapaz de expulsar a Satanás” — Thomas Watson, 1653.

“A natureza não pode elevar-se acima de si mesma, assim como um homem não pode gerar a si mesmo” — Leighton.

Uma outra coisa é igualmente clara: nenhum outro homem consegue fazer isso em nós. Os ministros podem pregar para nós e orar conosco — receber-nos na pia batismal, permitir que participemos da mesa do Senhor, dar-nos pão e vinho — mas eles não podem conceder vida espiritual. Eles talvez produzam a regularidade em lugar da desordem, uma decência exterior em lugar do pecado explícito. Mas eles não podem avançar mais do que a superfície. Eles não conseguem alcançar o nosso coração. Paulo pode plantar e Apolo pode regar — mas é somente Deus quem dá o crescimento (1Co 3.6). Quem, então, pode ressuscitar uma alma morta? Ninguém, a não ser o próprio Deus. Somente Aquele que soprou nas narinas de Adão o fôlego de vida pode fazer de um pecador morto — um cristão vivo. Somente Aquele que formou o mundo a partir do nada no dia da criação pode fazer do homem uma nova criatura. Somente Aquele que disse: “Haja luz” — e houve luz, pode fazer com que a luz espiritual brilhe no coração do homem. Somente Aquele que formou o homem do pó da terra e lhe deu vida ao corpo pode lhe dar vida à alma. É prerrogativa dEle fazer isso por meio do Seu Espírito, Ele tem o poder necessário para fazê-lo (Gn 1.2-3).

“Criar alguma coisa ou fazê-la surgir do nada — isso está além da capacidade da criatura mais poderosa que existe. Está acima do poder de todas as pessoas e dos anjos, criar até mesmo a menor folhinha de grama; Deus reclama isso como a Sua prerrogativa real (Is 40.26). Agostinho disse, com razão, que converter o pequeno mundo chamado homem é mais do que criar o grande mundo” — George Swinnocke, 1660.

O glorioso Evangelho contém provisão tanto para nossa vida espiritual como para nossa vida eterna. O Senhor Jesus é um Salvador perfeito. Essa poderosa Cabeça não possui membros mortos. O Seu povo não somente é justificado e perdoado — ele também é vivificado juntamente com Ele e feito participante da Sua ressurreição. O Espírito une a Ele o pecador e o ressuscita por meio dessa união, da morte para a vida. Nele o pecador vive, depois que crê. A fonte de toda a sua vitalidade é a união entre Cristo e a sua alma, que o Espírito inicia e mantém. Cristo é o fundamento nomeado de toda a vida espiritual e o Espírito Santo é o agente designado que transmite essa vida à nossa alma.

“Nós só começamos a viver quando somos unidos a Cristo, a fonte da vida, pelo Espírito que nos é transmitido — é a partir desse momento que devemos contar a nossa vida” — Flavel.

“Cristo é a causa primária universal de toda a vida” — Sibbes, 1635.

Se você quiser ter vida, venha ao Senhor Jesus Cristo. Ele concede dons, mesmo aos rebeldes. No momento em que o homem morto entrou em contato com o corpo de Eliseu, reviveu e se pôs em pé (2Rs 13.21). No momento em que você tocar o Senhor Jesus com a mão da fé, você se torna vivo para com Deus e as suas transgressões são perdoadas. Venha, e a sua alma com certeza viverá.

Eu jamais perco a esperança de que alguém possa tornar-se um cristão firme, não importa o que a pessoa tenha sido no passado. Eu sei como é grande a mudança da morte para a vida. Eu sei as montanhas de divisão que parece haver entre alguns de nós e o céu. Eu conheço a dureza, os preconceitos, a desesperadora pecaminosidade do coração natural. Mas eu me lembro que Deus o Pai criou este belo e bem organizado mundo a partir do nada. Eu me lembro que a voz do Senhor Jesus alcançou Lázaro quando este já estava morto havia quatro dias e o trouxe de volta do túmulo. Eu me lembro das impressionantes vitórias do Espírito de Deus em cada nação debaixo do céu. Eu me lembro de tudo isso e sinto que não preciso desesperar nunca. Sim! Aqueles entre nós que agora parecem mais completamente mortos em pecados, podem contudo ser ressuscitados para serem novas criaturas e andar diante de Deus em novidade de vida.

E por que não seria assim? O Espírito Santo é um Espírito misericordioso e amoroso. Ele não se afasta de ninguém por causa da depravação dessa pessoa. Ele não se desvia de ninguém pelo fato de os pecados dessa pessoa serem negros e vermelhos como a escarlata. Não havia nada nos coríntios que O motivasse a descer até eles e vivificá-los. Paulo diz a respeito deles, que eles eram “impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes, roubadores”. “Tais fostes alguns de vós” — diz ele — “mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.9-11).

Não havia nada nos colossenses que O motivasse a visitar o coração deles. Paulo nos relata que eles andaram em imoralidade sexual, impureza, luxúria, desejos malignos e avareza, que é idolatria. Contudo também a eles o Espírito vivificou. A tal ponto, que Paulo testificou deles: “vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3.5-10).

Não havia nada em Maria Madalena para que o Espírito vivificasse a alma dela. Antigamente ela estava “possessa de sete demônios”. Houve um tempo quando ela se destacava por sua perversidade e iniquidade. Mas até mesmo a ela o Espírito tornou uma nova criatura, separou-a dos seus pecados, trouxe-a até Cristo, fez com que ela fosse a última a sair de perto da cruz e a primeira a chegar ao túmulo vazio de Cristo.

Nunca, nunca o Espírito Se afastará de uma alma por causa da sua corrupção. Ele nunca jamais fez isso — e nunca jamais o fará. É glória para Ele o fato de ter purificado a mente dos mais impuros e feito deles templos para a Sua própria habitação. Talvez ele tome os piores de entre nós e os transforme em vasos da graça.

E por que não poderia ser assim? O Espírito é um Espírito Todo-Poderoso. Ele tem poder para mudar o coração de pedra num coração de carne. Ele pode interromper e destruir o mais poderoso mau hábito como um barbante no fogo. Ele pode fazer as coisas mais difíceis parecerem fáceis e as mais poderosas oposições se derreterem como neve na primavera. Ele pode cortar as trancas de metal e escancarar os portões do preconceito. Ele pode aterrar qualquer vale e aplanar qualquer terreno intransitável. Ele já o fez muitas vezes e Ele pode fazê-lo novamente.

“O poder do Espírito Santo é tão grande para regenerar o homem, para fazer dele uma nova criatura, que ele não se parecerá nem um pouco com a pessoa que era antes.”

O Espírito pode apropriar-Se de um judeu — o mais amargo inimigo do cristianismo, o mais feroz perseguidor dos crentes verdadeiros — o mais forte defensor do pensamento farisaico, o mais preconceituoso opositor da doutrina do Evangelho — e transformar esse homem num sincero pregador da própria fé que uma vez tentou destruir. Ele já o fez. Ele fez isso com o apóstolo Paulo.

O Espírito pode apropriar-Se de um monge católico romano, educado no meio da superstição romana — treinado desde a infância a crer em doutrina falsa e a obedecer ao Papa — impregnado até os olhos no erro e fazer desse homem o mais claro expositor da justificação pela fé que o mundo jamais viu. Ele já fez isso. Ele o fez com Martinho Lutero.

O Espírito pode apropriar-Se de um pensador inglês, sem estudo, sem apoio, sem dinheiro — um homem antigamente notório por suas blasfêmias e xingamentos — e fazer esse homem escrever um livro maravilhoso, que permanece sem igual, incomparável no gênero, desde os tempos dos apóstolos. Ele já fez isso. Ele fez isso com John Bunyan, o autor de “O Peregrino”.

O Espírito pode apropriar-Se de um marinheiro ensopado de mundanismo e pecado — um depravado capitão de um navio negreiro e fazer desse homem um muito bem sucedido ministro do evangelho — um escritor de cartas piedosas, que são um depósito de religião prática — e de hinos que são conhecidos e cantados onde quer que se fale o inglês. Ele já fez isso. Ele o fez com John Newton.

Tudo isso o Espírito fez e muito mais, que não posso mencionar agora. E o braço do Espírito não Se encolheu. O Seu poder não enfraqueceu. Ele é como o Senhor Jesus: “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8). Ele continua fazendo maravilhas e vai operá-las até o fim.

Eu digo, então, uma vez mais: quanto à vivificação da alma de qualquer homem, eu nunca me desespero. Eu me desesperaria — se isso dependesse do próprio homem. Alguns parecem tão endurecidos, que eu jamais teria esperança. Eu desesperaria se isso dependesse do trabalho dos ministros. Misericórdia, os melhores de nós são pobres, fracas criaturas! Mas eu não posso desesperar quando me lembro de que Deus o Espírito é o agente que comunica vida à alma — pois eu sei e estou convencido disto: para Ele nada é impossível.

Eu não ficaria surpreso se ouvisse, mesmo nesta vida, que o homem mais empedernido da lista dos meus conhecidos se tornou suave e que o mais orgulhoso assumiu o seu lugar aos pés de Jesus como uma criança desmamada.

Eu nem devo me surpreender quando encontrar muitos à mão direita de Cristo, no dia do juízo final, os quais, quando eu morrer, ainda estarão andando no caminho largo da destruição. Eu possivelmente vou me espantar e dizer: “O quê! Você aqui!” E deverei apenas lembrá-los: “Não era essa a minha palavra enquanto eu estava entre vocês — Nada é impossível Àquele que ressuscita os mortos?”

Haverá alguém que deseja ajudar a Igreja de Cristo? Então ore para um grande derramamento do Espírito. É somente o Espírito Santo que pode afiar os sermões, dar peso aos conselhos, poder às repreensões e derrubar as altas muralhas dos corações pecaminosos. Não é de pregações melhores, nem de escritos mais bem elaborados que precisamos hoje — precisamos é mais da presença do Espírito Santo.

Será que alguém sente a mais leve inclinação para achegar-se a Deus — a mais leve preocupação com sua alma imortal? Então corra para aquela fonte aberta de águas vivas, o Senhor Jesus Cristo, e você receberá o Espírito Santo (Jo 7.39). Comece imediatamente a orar pelo Espírito Santo. Não pense que Ele desistiu de você e que para você não há mais esperança. O Espírito Santo foi prometido a aqueles que O pedem (Lc 11.13). O nome dEle é "o Espírito da promessa" e "o Espírito da vida". Não Lhe dê descanso até que Ele venha sobre você e lhe dê um novo coração. Clame fervorosamente ao Senhor — diga a Ele: “Abençoa-me, mesmo a mim — vivifica-me e faze-me viver”.

E agora deixe-me concluir tudo o que já disse com umas poucas palavras de APLICAÇÃO ESPECÍFICA. Eu mostrei o que creio ser a verdade como ela é em Jesus. Vou tentar, com a bênção de Deus, expor isso com exatidão ao coração e à consciência de todos os que lerem este livro.

 

1. Em primeiro lugar, pergunto aos meus leitores: Você está morto, ou você está vivo?

Permita-me, como embaixador de Cristo, pressionar a questão em cada consciência. Há somente dois caminhos em que se pode andar: o caminho estreito e o caminho largo. Haverá somente dois grupos no dia do juízo final: os que estarão à mão direita de Cristo e os que estarão à mão esquerda dEle. Há somente duas classes de pessoas na igreja que se diz Igreja de Cristo e você obrigatoriamente pertence a uma delas. Onde está você? O que você é? Você está entre os vivos ou entre os mortos?

Eu falo é com você mesmo e com mais ninguém — não falo com o seu vizinho — mas com você, não com os africanos ou com os neozelandeses — mas falo com você, especificamente com você. Eu não estou perguntando se você é um anjo ou se tem a mente de Davi ou de Paulo — mas eu pergunto se você tem uma esperança, com fundamento bem seguro, de que você é uma nova criatura em Cristo Jesus. Eu lhe pergunto se você tem razão para crer que já se despiu do velho homem e se vestiu do novo homem — se você está consciente de ter passado por uma verdadeira mudança espiritual do coração — em suma, se você está morto ou vivo.

“Tudo depende desse ponto crítico. Se isso não ocorreu, você está arruinado —eternamente arruinado. Toda a sua profissão de fé, cortesia, privilégios, dons, obediência, não passam de zeros e nada significam, a não ser que a regeneração seja o dígito colocado antes deles” — Swinnocke, 1660.

“Você pode crer nisto: qualquer coisa que você seja, nunca você será salvo por ser uma pessoa influente ou um nobre, um cavalheiro ou uma pessoa rica, uma pessoa instruída ou uma pessoa eloquente. Nem por ser um calvinista, ou um luterano, um arminiano, um anabatista, um presbiteriano, alguém de uma comunidade independente, ou um protestante, alguém que meramente pertence a um desses grupos. Muito menos por ser católico, ou por pertencer a qualquer outra seita falsa. Para ser salvo, você precisa tornar-se um cristão regenerado — ou não haverá esperança para você” — Richard Baxter, 1659.

 (a) Não tente me calar dizendo que você foi admitido na igreja por meio do batismo, recebeu a graça e o Espírito naquele sacramento e que por isso você está vivo. Isso não será proveitoso para você. O próprio Paulo diz a respeito da viúva, que foi batizada, mas vive nos prazeres: “mesmo viva, está morta (1Tm 5.6). O Senhor Jesus Cristo mesmo diz ao dirigente da igreja em Sardes: “tens nome de que vives e estás morto (Ap 3.1). Se não pode ser vista, a vida de que você fala não é nada. Mostre-me essa vida se devo crer que ela existe. A graça é luz e a luz sempre é visível. A graça é sal e o gosto do sal sempre será sentido. Uma habitação do Espírito que não se mostra pelos frutos exteriores e uma graça que os olhos humanos não conseguem descobrir são ambos de suspeitar em alto grau. Creia-me, se você não tem outra prova da vida espiritual além do seu batismo, você ainda é uma alma morta.

 (b) Não me diga que isso é uma questão que não dá para resolver; que é presunção querer opinar sobre esse assunto. Isso é um esconderijo sem fundamento e uma falsa humildade. A vida espiritual não é algo tão difícil de entender e duvidoso como você imagina. Existem sinais e evidências pelos quais a presença dela pode ser vista por aqueles que conhecem a Bíblia. O apóstolo João diz: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida” (1Jo 3.14). O momento exato e a época dessa passagem podem muitas vezes ser desconhecidos ao homem. O fato e a realidade dela raramente será algo inteiramente incerto. Foi uma verdadeira e bela resposta, a que uma menina escocesa deu a Whitefield quando ele lhe perguntou se o coração dela havia sido transformado: “Alguma coisa mudou, eu sei, pode ser que tenha sido o mundo, pode ser que tenha sido meu próprio coração — mas houve uma grande mudança em algum lugar, disso estou absolutamente certa, pois tudo parece diferente do que era antes”. Oh, pare com as evasivas quanto a essa pergunta! Ponha colírio nos olhos para que você veja (Ap 3.18). Você está morto ou vivo?

(c) Não pense em retrucar que você não sabe — que você admite que é um assunto importante — que você espera saber um pouco antes de morrer — que você pretende pensar nisso em alguma ocasião apropriada — mas que no presente momento você não sabe. Você não sabe! Mas o céu ou o inferno estão envolvidos nesta questão! Uma eternidade feliz ou desgraçada dependem da sua resposta. Quando se trata dos seus negócios terrenos, você não pensa dessa forma indecisa. Você não lida com seus negócios terrenos de forma tão vaga. Você se antecipa. Você se previne contra qualquer possível imprevisto. Você faz seguro de vida e das suas propriedades. Oh, por que não lidar dessa mesma forma com a sua alma imortal?

Você não sabe! E no entanto tudo ao seu redor é incerto. Você não passa de um pobre e frágil verme — o seu corpo foi criado de maneira assombrosamente maravilhosa — a sua saúde pode desestruturar-se de mil formas. A próxima vez que as margaridas florirem, pode ser sobre o seu túmulo! Tudo à sua frente é negra escuridão. Você não sabe o que será daqui a um dia, muito menos daqui a um ano. Oh, por que não resolver de uma vez, sem mais demora, essa questão da sua alma?

Que cada leitor deste livro comece a importante tarefa de um autoexame. Não se dê descanso até que você saiba exatamente qual é a sua situação aos olhos de Deus. Qualquer hesitação nesse assunto é um mau sinal. Isso procede de uma consciência desassossegada, inquieta. Isso mostra que a pessoa considera que a sua situação não é boa. A pessoa sente, como o negociante desonesto, que a sua prestação de contas não resistirá a uma investigação. Ele teme a luz.

Nas coisas espirituais, como em qualquer outro assunto, é sabedoria fazer um trabalho correto. Não considere nada como líquido e certo. Não compare a sua situação com a dos outros. Exponha tudo à medida da Palavra de Deus. Um erro a respeito da sua alma é um erro de consequências eternas! Nas palavras de Leighton: “Com toda certeza, aqueles que não nasceram de novo, um dia desejarão não ter nascido jamais”.

Sente-se hoje e pense. Examine o seu próprio coração e fique quieto. Vá ao seu quarto e considere. Entre num lugar reservado ou nalgum outro lugar qualquer onde possa estar sozinho com Deus. Encare a questão de modo correto, plenamente, honestamente, cara a cara. Como é que ela atinge você? Você está entre os vivos ou entre os mortos?

“Se a sua situação é boa, examiná-la a fundo vai trazer-lhe conforto. Se a sua situação é má, examiná-la a fundo não poderá torná-la pior; não, esse é o único modo de torná-la melhor, de resolvê-la — pois a conversão começa com a convicção” — Hopkins, 1680.

 

2. Em segundo lugar, quero falar com toda afeição àqueles que estão mortos

O que é que direi a vocês? O que é que eu posso dizer? Quais serão as palavras que de alguma forma podem ter efeito em seu coração? Eu lhes direi isto: eu tenho pena da sua alma. Eu sinceramente lamento por ela. Talvez você seja descuidado e indiferente. Talvez você pouco se importe com o que estou dizendo. Talvez você mal e mal passe os olhos por este livro e depois de ler você o despreze e volte ao mundo; mas você não pode impedir meus sentimentos por você, por menos que você sinta qualquer coisa por si mesmo.

Será que eu lamento quando vejo um jovem minando o fundamento da própria saúde física, cedendo à sua luxúria e às suas paixões, semeando assim amarguras para si mesmo quando for mais velho? Muito mais, então, eu lamentarei pela sua alma.

Será que eu lamento quando vejo as pessoas esbanjando a sua herança, desperdiçando suas propriedades com diversões e loucuras? Muito mais, então, eu lamentarei pela sua alma.

Será que eu lamento quando ouço que alguém ingere um veneno de ação lenta, porque é agradável, como o beberrão ou o viciado em drogas — cavando centímetro por centímetro o seu próprio túmulo? Muito mais, então, eu lamentarei pela sua alma.

Eu lamento quando ouço de oportunidades de ouro jogadas fora — de Cristo rejeitado, do sangue da expiação espezinhado — do Espírito resistido; a Bíblia negligenciada — o céu desprezado e o mundo colocado no lugar de Deus.

Eu lamento ao pensar na presente alegria que você está perdendo, a paz e a consolação que você está afastando de si, a miséria que você está acumulando para si mesmo — e o amargo despertar que está por vir!

Sim! Eu tenho de lamentar. Não consigo evitá-lo. Outros podem talvez pensar que é suficiente lamentar sobre cadáveres. Da minha parte, porém, penso que há muito mais razão para lamentar sobre almas mortas. Os filhos deste mundo às vezes nos reprovam por sermos tão sérios e austeros. De fato, quando eu olho o mundo, fico maravilhado de ainda podermos sorrir de alguma forma.

Hoje, a todos os que estão mortos em pecados, eu digo isto: Por que você quer morrer?  Será que o salário do pecado é tão doce e bom, que você não consegue abrir mão dele? Será que o mundo satisfaz tanto que você não pode abandoná-lo? Será que servir a Satanás é tão prazeroso que você nunca poderá se separar dele? Será que o céu é algo tão pobre que não é digno de ser desejado? Será que a sua alma é de tão pouco valor, que não é digna de que você lute para que seja salva? Oh, volte-se! Volte-se antes que seja tarde demais! Deus não deseja que você pereça. “Tão certo como eu vivo” — Ele diz — “Eu não tenho prazer na morte de ninguém”. Jesus ama você e Se angustia com a sua insensatez. Ele chorou sobre a perversa Jerusalém, dizendo: “Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes”. Com toda a certeza, se você se perder, o seu sangue cairá sobre a sua própria cabeça. “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ez 18.32; Mt 23.37; Ef 5.14).

Creia-me, creia-me, o verdadeiro arrependimento é o único passo do qual nenhum homem jamais se arrependeu. Milhares de pessoas já disseram, em seus últimos momentos, que “serviram a Deus muito pouco”. Mas nenhuma pessoa jamais disse, no momento em que deixava este mundo, que havia se preocupado demais com a sua alma. O caminho da vida é um caminho estreito — mas as marcas dos passos estão todos numa só direção — nem sequer um dos filhos de Adão jamais voltou dizendo que foi um engano. O caminho do mundo é um caminho largo — mas milhões e milhões o têm abandonado e dão testemunho de que era um caminho de tristeza e desilusão.

 

3. Em terceiro lugar, quero falar com aqueles que estão vivos

Você está de fato vivo para com Deus? Você pode dizer de verdade: “Eu estava morto, e agora estou vivo. Eu estava cego — mas agora vejo”? Então receba a palavra de exortação e incline o coração à sabedoria.

Você está vivo? Então assegure-se de provar isso por meio das suas ações. Seja uma testemunha consistente. Que as suas palavras e suas obras e os seus caminhos e o seu humor tudo fale a mesma coisa. Que a sua vida não seja uma pobre vida apática como a da tartaruga ou do bicho preguiça — que ela seja, antes, uma vida emocionante, vigorosa, como a do cervo ou do pássaro. Que as suas virtudes brilhem em todas as janelas da sua vida, que aqueles que vivem perto de você vejam que o Espírito habita em seu coração. Que a sua luz não seja uma chama ofuscada, vacilante, incerta. Que ela queime constantemente, como o eterno fogo do altar e nunca se enfraqueça. Que o perfume da sua religião, como o precioso unguento de Maria, encha a casa onde você mora. Seja uma epístola de Cristo tão claramente escrita, com caracteres tão grandes — que aquele que corre possa lê-la. Que o seu cristianismo seja tão inconfundível, o seu olho tão simples, seu coração tão íntegro, seu andar tão reto, que todos que virem você não tenham dúvida sobre quem você é e a Quem você serve. Se somos vivificados pelo Espírito, ninguém deveria ter dúvidas a esse respeito. Nossa conversa deveria declarar claramente que nós “procuramos uma pátria” (Hb 11.14). Não deveria ser necessário contar às pessoas, como no caso do quadro que dizia: “Este é um cristão”. Não deveríamos ser tão indolentes e parados, que as pessoas se vissem obrigadas a vir mais perto para olhar bem e perguntar: “Será que este está morto ou está vivo?”

Você está vivo? Então assegure-se de provar isso por meio do seu crescimento. Que a grande transformação interior se torne cada ano mais evidente. Que a sua luz seja uma luz crescente, não como o sol de Josué, no vale de Aijalom, que permaneceu parado — nem como o sol de Ezequias, que andou para trás — mas que brilhe mais e mais até o último dos seus dias. Que a imagem do seu Senhor, no qual você foi renovado, cresça mais clara e distintamente cada mês. Não permita que seja como a imagem e a inscrição de uma moeda, cada vez mais indistintas e desfiguradas à medida que a moeda é usada. Antes, que se torne mais evidente à medida que envelhece e permita que a imagem do seu Rei fique mais saliente e clara.

Eu não confio numa religião estagnada. Não penso que um cristão tenha sido criado para ser como um animal para crescer até certa idade e depois parar. Eu creio que ele foi designado para ser como uma árvore, para crescer mais e mais em força e vigor todos os dias. Lembre-se das palavras do apóstolo Pedro: “vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor” (2Pe 1.5-7). Esse é o caminho para ser um cristão útil. As pessoas acreditarão que você é honesto quando virem constante melhoria e talvez se animem a juntar-se a você. Essa é uma forma de obter o conforto da certeza: “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.11). Oh, para ser útil e feliz na sua religião, faça deste o seu lema: “Avante! Avante!” — até o seu último dia aqui na terra.

 “As pessoas prestam mais atenção nas ações do que nas palavras — Leighton.

Eu suplico a todos os leitores cristãos que lembrem que eu falo tanto a mim mesmo como para eles. E digo que a vida espiritual que há nos cristãos deve ser mais evidente. Nossas lâmpadas precisam de limpeza — elas não devem iluminar de forma tão embaçada. Nossa separação do mundo deve ser mais distinta — nosso andar com Deus deve ser mais decidido. Muito de nós são como Ló — relutantes; ou como Rúben, Gade e Manassés — residem na fronteira; ou como os judeus do tempo de Esdras — tão misturados com estrangeiros, que nosso pedigree espiritual não pode ser descoberto. Não deveria ser assim. Vamo-nos definir. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Se de fato temos vida, que a revelemos.

A situação do mundo exige isso. Estamos vivendo nos dias finais. Os reinos da terra estão se abalando, caindo, ruindo, desmoronando (Is 24.1, etc.). O glorioso reino que jamais será removido está se aproximando. O próprio Rei está perto, às portas. Os filhos deste mundo estão olhando ao redor para ver o que os santos estão fazendo. Deus, em Suas tremendas providências, nos está chamando: “Quem está do Meu lado? Quem?” — É evidente que devemos estar, como Abraão, muito prontos com nossa resposta: “Eis-me aqui!” (Gn 22.1).

Talvez você diga: “Ah, essas coisas são velhas — essas são palavras bonitas. Sabemos disso tudo. Mas nós somos fracos, não temos força nem para um bom pensamento, não podemos fazer nada, temos de ficar quietos”. Ouça atentamente, meu leitor crente. Qual é a causa da sua fraqueza? Não será porque a fonte da vida está sendo pouco usada? Não será porque você está se apoiando em antigas experiências e não está colhendo maná fresco — recebendo diariamente novas forças de Cristo? Ele lhe deu a promessa do Consolador. “Ele dá maior graça” — graça sobre graça a todos que a pedem. Ele veio “para que tenham vida, e vida em abundância”. “Abram bem a boca” — diz Ele — “e eu a encherei” (Tg 4.6; Jo 10.10; Sl 81.10).

Eu digo a todos os crentes que leem este livro que, se vocês querem que a sua vida seja mais saudável e vigorosa, você tem de se aproximar com mais ousadia do trono da graça. Você precisa abrir mão desse espírito relutante — essa hesitação em levar o Senhor a sério naquilo que Ele diz. Sem dúvida nenhuma você é um pobre pecador e nada mais que isso. O Senhor o sabe e providenciou um depósito de força para você. Mas você não vai ao depósito que Ele providenciou — você só não tem porque não pede. O segredo da sua fraqueza é a sua pequena fé — e a pouca oração. A fonte está aberta — mas você só se serve de umas poucas gotas. O pão da vida está à sua frente — contudo você come apenas umas migalhas. O tesouro do céu está aberto — mas você só apanha uns poucos centavos. “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mt 14.31).

Desperte para conhecer os seus privilégios — acorde, pare de dormir. Não me fale de fome espiritual e sede e pobreza — enquanto o trono da graça está aí, à sua frente. Diga, antes, que você é orgulhoso — e não quer chegar como um pobre pecador. Diga, antes, que você é preguiçoso — e não quer se esforçar para conseguir mais.

Deixe de lado as mortalhas do orgulho — que continuam penduradas em você. Livre-se do traje egípcio da indolência — que nem deveria ter sido trazido quando você atravessou o mar Vermelho. Fora com essa incredulidade, que prende e paralisa a sua língua. Os seus poucos recursos não estão em Deus, mas em você mesmo. “Aproximemo-nos com ousadia do trono da graça” — onde o Pai está sempre aguardando para dar e Jesus está sempre junto dEle intercedendo (Hb 4.16). Venha com coragem, pois isso lhe é permitido, por mais pecador que você seja — se vier em nome do grande Sumo Sacerdote. Venha com coragem e peça em grande medida e você terá abundantes respostas — misericórdia como um rio e graça e força como uma caudalosa torrente. Venha com coragem e você receberá suprimentos que excederão tudo o que você pode pedir ou pensar. “Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16.24).

Se de fato estamos vivos e não mortos, esforcemo-nos para nos comportar de forma que as pessoas saibam quem somos. Enquanto vivermos, que possamos viver para o Senhor. Quando morrermos, que possamos morrer a morte dos justos. E quando o Senhor Jesus vier, que possamos ser encontrados prontos e não “envergonhados na sua vinda” (1Jo 2.28).

Mas, depois de tudo isso, estamos vivos ou mortos?

Essa é a grande questão!

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As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, Ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Aplica-te ao estudo da Palavra.

 

Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).

 

 

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (1Co 15.55)

 

 

Orar bem é estudar bem.

 

 

Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente (Is 40.8).

       

   Em tudo dai graças (1Ts 5.18).

 

 

Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher (Sl 25.12).

 

 

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez os céus e a terra (Sl 121.1-2)

 

 

 

 

     

A vereda dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito (Pv 4.18)
 
Deus tudo vê

 

Não temais, pequenino rebanho.

 

 

 

Deus existe e é galardoador daqueles que diligentemente O buscam. - Hebreus 11.6

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